terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Despertar dos Mortos
(Dawn of the Dead, 1978)

De: George A. Romero

Com: David Emge, Ken Foree, Scott Reiniger, Gaylen Ross


Em 1978, no auge da disco e no início da cultura do blockbuster, George Romero reinventa, amplia e faz “o melhor filme já feito dentro de um shopping Center” segundo Rob Hill (um dos críticos do livro 501 Filmes que Merecem Ser Vistos).


Muito mais do que o melhor filme já feito dentro de um shopping, Despertar é o melhor filme já feito sobre o efeito que o shopping pode causar no ser humano.






A intenção nada discreta do diretor em comparar os zumbis vagando pelo shopping vazio, com o ser humano vagando “sem rumo” pelos shoppings no mundo todo não é descabida, tampouco mentirosa.


Despertar se inicia com os Estados Unidos enfrentando uma “invasão” de mortos vivos e toda a histeria coletiva que se instaura (representada pela virulenta apresentação de um programa de TV). Somos então apresentados a Francine (Gaylen Ross) e Stephen (David Emge) um casal que planeja fugir de helicóptero para as áreas mais isoladas em busca de um refúgio. Ao mesmo tempo o policial Roger (Scott Reiniger) que também fugiria no mesmo helicóptero enfrenta uma infestação em um prédio de uma região pobre da cidade, habitado essencialmente por latinos e negros. Novamente Romero emprega seus comentários raciais na figura de um policial transloucado e decidido a matar a todos os moradores do prédio. Ainda no contexto da crítica social/racial, o filme apresenta Peter(Ken Foree) o parceiro acidental do policial Roger e que como o herói de Noite é negro.









Uma curiosidade é que o mesmo ator , aparece no remake “videoclipe” dirigido por Zack Snyder entoando o mesmo discurso que faz no filme original.


Esses quatro personagens fogem no helicóptero e pousam em um shopping habitado por alguns poucos zumbis.


Encantados com os prazeres efêmeros de um consumismo vazio, eles decidem abater os zumbis, e se trancar no shopping.











Uma genial amostra da força do filme reside nas progressivas mudanças no cenário em que os personagens a principio se esconderiam, encontrariam mantimentos e partiriam rumo a um lugar mais isolado. Esse misto de esconderijo e quarto vai se transformando de depósito abandonado e lotado de caixas, para uma confortável e até luxuosa residência.


O homem quando encontra o conforto tem o hábito de se esquecer dos problemas maiores , e somado ao eterno poder persuasivo do consumismo, não é de estranhar que os personagens decidam pela permanência.








Todos nós já tivemos , pelo menos uma vez na vida, a idéia de ficarmos presos em uma loja, shopping ou qualquer outro estabelecimento que gostamos muito, para podermos usufruir integralmente e por tempo indeterminado todos os seus prazeres.


Esse é o principal motivo para Despertar dos Mortos ser um filme que mesmo passados 31 anos, continua magistralmente único e atual.






Zumbis não são os “vilões” desalmados em busca de nossa carne, são reflexos de nossas intenções e desejos profundos.


Em um momento do filme um dos personagens diz ao ser questionado sobre o motivo dos zumbis estarem caminhando de forma débil pelo shopping. “Talvez eles se lembrem de terem passados bons momentos aqui”.







Assim como os zumbis que vagam sem sentido pelos corredores do abastado shopping, o homem faz o mesmo com sua prórpria vida , e pior, com o próprio planeta.

Talvez ao terminarmos de ver esse filme, nos lembremos do porque a humanidade ser tão mesquinha e auto-destrutiva.

3 comentários:

  1. Perfeito - tá no meu top ten do gênero e é o melhor que o mestre Romero já fez, apesar de não ser o mais "assustador". Mas cá entre nós, ver aqueles zumbis batendo nos vidros e vagando a esmo pelo shopping é assustador cara, faz a gente ver toda a sociedade num espelho meio besta. Um dos poucos filmes que tem uma mensagem atual 30 anos depois...

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  2. Exatamente Fábio, assino embaixo com todas as letras. E ainda tem gente que acha que o Romero faz filme de zumbi ... ele faz filme sobre o ser humano, analisa em cada um dos seus filmes o ser humano... ele é gênio e ponto rsrs.

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  3. Hum, me parece ser um filme bastante esquisito, pelo menos para mim.

    Abraço!

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