domingo, 31 de outubro de 2010


Vanishing on 7th Street


Esse mistura FlashForward, que não era grande coisa como história, mas que tinha o ponto de partida - o tal blackout - muito interessante, com filmes de horror e thriller psicológico. Interessante se não cair em coisas mais absurdas, como aliens e afins. Hayden Christensen não convence nem no trailer mas Leguizamo e Thandie Newton são bons atores e espero que roubem a cena.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Exam
(Exam, 2009)
Suspense - 101 min.

Direção: Stuart Hazeldine
Roteiro: Simon Garrity e Stuart Hazeldine

Com: Adar Beck, Nathalie Cox, John Lloyd Fillingham, Chukwudi Iwuji, Luke Mably, Pollyana McIntosh, Jimi Mistry, Colin Salmon

Algum tempo atrás escrevi sobre um pequeno e interessantíssimo filme espanhol chamado El Metodo. Naquele filme, que discutia a questão da selvageria que geria as grandes corporações, homens e mulheres eram colocados numa sala para uma pretensa entrevista de emprego, que no fundo era uma grande análise comportamental daqueles personagens e de quem os contratava.

Pois bem, a princípio Exam é a mesma coisa. Oito candidatos, completamente estranhos uns aos outros, são colocados numa sala fechada. Após receberem a orientação de que durante o tempo transcorrido da "prova" ficariam incomunicáveis, não podendo se dirigir ao guarda (armado) que faria a segurança e ao aplicador - chamado Vigilante e que não fica presente na sala - são deixados com a afirmação de que a prova era composta de apenas uma pergunta que resultaria apenas uma reposta.


Logo, os oito personagens (ou melhor sete, já que nos primeiros três minutos uma das candidatas é eliminada) passam a interagir (o que era permitido pelas regras) e tentar descobrir a pergunta e por conseqüência a resposta a um teste em branco.

O diretor Stuart Hazeldine consegue por boa parte da narrativa, manter a tensão e a expectativa da audiência sobre as revelações que acompanham aquelas pessoas. Por outro lado, a construção dramática de cada um dos sete remanescentes é rasa e não passa de uma coleção de estereótipos dos mais comuns e vazios. Temos a mulher calada, o misterioso, o intenso e apaixonado, a nerd sexy e metida, o cafajeste, o trapaceiro e a líder. Tudo facilmente lido com pouco mais de meia hora de projeção por qualquer um com um pouco mais de atenção. Dessa forma, fica óbvio que o diretor dividiu sua "equipe" em mocinhos - nem tão inocentes - e vilões - canastrões - deixando a tensão e a sensação de mistério e os diálogos virulentos e inteligentes de El Metodo (por exemplo) para escanteio.


Exam é uma tentativa de encontrar essa tal pergunta e de falar - bem genericamente - sobre aquela gente. Hazeldine no entanto não soube como conduzir e principalmente responder a tal pergunta - e muito menos elaborá-la. Quando chegamos ao desfecho (que não vou revelar) notamos que as respostas surgem de forma tão bruscas e corridas que não são compreensíveis e principalmente mal fazem sentido.

O diretor apela covardemente para os "mini-flashbacks" para recontar trechos em que - para ele - ficaram claras as "dicas" para a solução de seu mistério. Esse recurso, se usado com elegância (como Shyamalan fez em Sexto Sentido, só pra ficar num exemplo bem óbvio) fazem o espectador revistar o filme notando essas tais referências e entendendo totalmente as sacadas inteligentes do diretor.

Hazeldine - que não parece ser um diretor com tal imaginação - fez uso desses elementos de forma grosseira e ainda com cara-de-pau suficiente para chamar (na falta de palavra melhor) o espectador de palhaço, ao resolver o mistério da pergunta e da resposta do tal exame.


Mas, muito mais ofensivo do que uma eventual escorregada final de um thriller que vinha caminhando sem ofender ninguém, é sua moralidade - no mínimo - discutível. Durante o filme somos bombardeados com seqüências que cinematograficamente são interessantes, mas que se formos pensar de forma objetiva, sacramenta a frase feita: os fins justificam os meios.

São personagens que estão dispostos a tudo pela vaga em um emprego. Somente isso. Um emprego. Não estão em situação de extrema necessidade, de vida ou morte, mas sim disputando uma vaga no mercado de trabalho.

Para que o espectador não fique com asco dessa questão de imediato, o diretor e roteirista Hazeldine, tenta inserir algumas motivações mais passionais naquela gente para justificar o comportamento deles. Uma tentativa frustrada, pois além de não causar nenhuma comoção ainda ajuda a reforçar mais ainda os estereótipos de alguns personagens.


Porém, quando as luzes se apagam e o espectador deixa o filme para trás é que ele parece se tornar ainda mais ofensivo. A justificativa doentia para a empresa agir daquela forma e submeter às pessoas as humilhações e a tensão desnecessária surge para "um bem maior". É a pá de cal, que faz qualquer um com um pouco de bom senso e que acha que os fins jamais podem justificar os meios, sepultarem a frágil história apresentada.

Talvez muitas empresas fabulosas achem realmente que "apertando" e levando o funcionário aos extremos é que conseguirão que seu desempenho seja melhorado e por que não, que ele transforme-se em um ser dependente de seu trabalho. Que sua rotina no emprego seja sua total e completa realização e que outros aspectos "menores" como família, conhecimento, amor e afins sejam deixados de lado em favor da companhia.


Exam parece querer defender essa idéia, travestindo-se de filme cool. Vinha indo muitíssimo bem até que a canalhice é mostrada e o espectador descobre a verdade. Aí é difícil não se sentir ofendido moralmente (no meu caso) e intelectualmente (já que o filme usa de um recurso fajuto e infeliz para apresentar soluções, que por sua vez podem ser questionadas quanto a sua lógica e veracidade).

Apesar disso, os atores tentam defender seus rasos pratos de sopa com dignidade. Luke Mably, vivendo o asqueroso White, parece se divertir muito em cena, lembrando Sam Rockwell em diversos momentos e é o grande destaque.

O filme brinca com grande felicidade com a fotografia e a iluminação que alterna o mono cromatismo, para o azulado, para o avermelhado e para a penumbra com bons resultados e principalmente ligados ao que o filme pede, não soando forçado.


Hazeldine por sua vez, destaca-se apenas com sua inventiva abertura, mostrando cada personagem por detalhes de seu vestuário ou dos rostos de cada um, o que insinua um mistério que o filme faz questão de abandonar.

Exam é uma tentativa frustrada. Não funciona como thriller e muito menos como estudo de "alguma coisa". É fútil, moralmente condenável e intelectualmente de baixo nível. Uma bobagem.


quinta-feira, 28 de outubro de 2010


Hobo with a Shotgun

Só o fetiche e curiosidade mórbida fazem o Fotograma incluir esse trailer na sua sessão Coming Soon. A história do mendigo bad-ass que resolve se vingar da sociedade cruel parece ser o "trash" de 2011. Extremamente gráfico e "estúpido", e ainda tem Hauer revisitando suas própria história, trazendo de volta personagens que interpretava na fase holandesa de sua carreira.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Liga da Justiça: A Nova Fronteira
(Justice League: The New Frontier, 2008)
Aventura - 75 min.

Direção: Dave Bullock
Roteiro: Stan Berkowitz

Com as vozes de: David Boreanaz, Miguel Ferrer, Neil Patrick Harris, John Heard, Lucy Lawless, Kyle McLachlan, Kyra Sedgwick e Brooke Shields

Liga da Justiça - A Nova Fronteira é uma homenagem a uma época da história americana, realizada na graphic novel de Darwyn Cooke. Nela o escritor coloca o panteão da DC no período entre o fim da segunda guerra mundial e o início da guerra do Vietnã, período em que a população e a política americana eram afligidas por um sentimento de impotência e de tensão constante.


No meio desse contexto, Cooke, insere os personagens icônicos da DC, apresentando mudanças em alguns deles e origens de outros. O plot fala sobre O Centro, uma entidade que domina mentalmente as pessoas, forçando-as a agir de forma insanamente violenta, o que alimenta o poder da entidade, que tem como objetivo - o velho clichê - de destruir o mundo.

Ok, concordo que o plot narrativo é comum e que não empolga ninguém, mas se levarmos em consideração que a história de Cooke é ambientada no período de maior "invencionismo" na ficção científica do século XX, a homenagem aqui talvez caiba. O mesmo vale para os personagens que são apresentados aqui como criações desce período e portanto obedecem o código de moral e tem seu design relacionado à época.


Dando um passo a mais do que Morte do Superman apresentava, Liga trás diversos elementos que inserem o filme em um contexto mais realista e mais próximo do público, inserindo fatos históricos que cativam os fãs de HQ e ainda tem a intenção de fazer o não-fã se aproximar da animação. Referências a Guerra da Coréia, Indochina, Macarthismo, racismo, o "perigo vermelho", Rosa Parks, Edward Murrow (o famoso "Boa Noite e Boa Sorte") e a idéia dos marcianos verdes tão presente na ficção científica nos anos 50.

Ao mesmo tempo em que fala sobre a ameaça do Centro, o filme apresenta a origem de dois heróis seminais do universo DC, o Lanterna Verde e o Caçador de Marte. O Lanterna é visto como o ex-piloto americano Hal Jordan que se envolve numa empresa de aviação experimental e se torna o "test-driver" de uma viagem a Marte. O Caçador segue sua origem clássica da HQ, e as duas narrativas se interligam quando a empresa para qual Hal Jordan trabalha descobre que um marciano chegou a terra e pretende enviar uma missão até o planeta vermelho em busca de vida no planeta.


O Caçador é de longe o personagem mais interessante, agindo como um imigrante comum que tenta se habituar aquela realidade que agora faz parte, usando de um artifício bastante comum para aprender sobre sua nova "casa" : a televisão. A Partir dela ele aprende os costumes, qualidade e defeitos do povo (tudo a partir de personagens e tipos comuns aos primórdios da TV, incluindo ai o Pernalonga) e resolve estudá-lo e ajudá-lo, usando sua habilidade de transformação para se tornar um detetive particular no melhor estilo noir.

A reverência que a obra faz a chamada "Era de Ouro" dos quadrinhos é muito bem realizada. Os uniformes e a própria caracterização dos personagens reforçam essa sensação de nostalgia. O Batman que é um coadjuvante nessa história, surge com o visual de Bob Kane, aquele em que sua inspiração de morcego era mais nítida, quase amedrontadora, o que é reforçado na seqüência em que o personagem surge na história.

Marcando essa mudança de ares, quando o personagem aparece pela segunda vez, seu visual já segue o clássico visual "ameno" com azul e cinza, contando com a presença ainda do Robin. Na história a sugestão de mudança surge com a interferência do Caçador que durante uma ação em conjunto com o morcego (disfarçado de detetive) percebe que uma criança fica apavorada com o visual sombrio do cavaleiro das trevas. Com isso, o Morcego percebe que sua imagem apavorava não somente os seus inimigos, mas também seus aliados e protegidos.


Na realidade a mudança do uniforme de Batman nos quadrinhos teve razões comerciais: os editores da época imaginavam que uma transformação do personagem em alguém mais leve e menos violento poderia alavancar mais vendas e trazer mais lucros. Já o surgimento do Robin, foi visto como elo de ligação entre o público alvo e a história mostrada.

Ainda no campo da caracterização é interessante notar como as pinups inspiraram o conceito das personagens femininas na obra. Todas, com maior ou menor grau, lembram Betty Page e companhia, sendo mais uma homenagem que a nostálgica obra faz.

Assim como no filme anterior da DC (Morte de Superman) o filme mostra aqui e ali que pretende ser mais do que um desenho animado escapista e para os mais jovens. A seqüência da guerra da Coréia, que abre o filme é - apesar de discreta - violenta para os padrões do politicamente correto que domina a cultura mundial. A poética seqüência do avião invisível, que se torna visível pelo rastro vermelho de sua cabine é uma das imagens mais fortes que a animação americana produziu na década.


O elenco de dubladores também reforça essa "preocupação" em parecer mais adulto e sério. Entre os inúmeros atores que dão voz aos personagens, temos David Boreanaz (da série Angel e Buffy, como o Lanterna Verde), Miguel Ferrer (da série Crossing Jordan, como o Caçador de Marte), Neil Patrick Harris (da série How I Met Your Mother, como o Flash), John Heard (o pai de Esqueceram de Mim, como Ace Morgan), Lucy Lawless (a eterna Xena, como Mulher Maravilha), Kyle McLachlan (de Duna e Veludo Azul como Superman), Kyra Sedgwick (da série The Closer, como Lois Lane) e Brooke Shields (como Carol Ferris). Uma beleza de elenco que não faria feio numa super-produção hollywoodiana.

Outro destaque dessa questão "adulta" é que seus verdadeiros heróis não são os superpoderosos Superman ou Mulher Maravilha (apesar de ambos terem participação importante), mas os "recém-nascidos" Lanterna Verde e Caçador de Marte que completam o trio principal com o Flash (Barry Allen). Todos os três tem medos muito claros, defeitos e são falíveis, o que contrabalanceia com a aventura inocente (vilão monstruoso que quer dominar o mundo) que era comum durante os quadrinhos da época. É uma mistura desses perspicazes elementos mais sérios com a simplicidade desse tipo de aventura que faz do filme uma experiência diferente em relação a todos os demais filmes DC.


O que pode incomodar os espectadores de hoje, é seu arco final. Quando os heróis se reúnem (numa proto-Liga da Justiça) para enfrentar a ameaça do Centro, o sentido de comprometimento com a pátria, o "heroísmo" americano e até John Kennedy são exaltados. Para nós, esse discurso soa hoje, risível e até ofensivo. Porém, se colocarmos no contexto daquele período histórico, faz sentido. Estamos falando de um país em crise interna e que vivia uma caça as bruxas (termo usado ad-nauseum) entre todos os seus cidadãos. As aspirações, diálogos e ações dos heróis da história refletem o que vemos nas produções cinematográficas de época. Ou seja, Liga da Justiça - Nova Fronteira é uma grande homenagem a esse período histórico e a essa era nos quadrinhos.

Caso víssemos esse discurso "americanóide" sendo proferido numa produção de cenário comtemporâneo, certamente o desconforto seria maior do que já é.

Por outro lado, esse excesso de homenagens pode soar revisionista e reacionário. Quase como uma declaração de amor ao "american way of life" em contraposição a globalização presente no mundo hoje. Isso é perigoso, já que discursos assim, caso não sejam bem geridos e administrados, podem sugerir uma ligeira xenofobia e um descaso ao que não se encaixa nessa postura.


A cena "Os Eleitos" em que os heróis marcham para a "glória" é um desses exemplos, que foi claramente pensado para evocar essa união "pela pátria e pelo povo". Algo que soa piegas e até ridículo hoje. O perigo é o quanto isso não passa de uma homenagem pura e simples e o quanto é o desejo implícito do roteirista e diretor de que tal situação ainda se repetisse hoje em dia.

Além disso, o filme tem os mesmos defeitos estruturais em seu terceiro ato que Morte do Superman tem. Sofre por ser muito curto e apresentar soluções simplistas e corridas. Novamente (e me repito quase textualmente) uns vinte minutos a mais não faria mal ao filme e ao espectador.

Nova Fronteira não chega a ser um grande filme, mas é superior a Morte do Superman pois combina de forma mais orgânica a ação dos personagens com as pitadas de maturidade, revestido com uma camada de homenagem - mesmo que piegas e apelativa - a uma época em que muito do que hoje lemos foi criado.

(Obs: para os fãs neófitos, legal notar que durante o discurso final - que conta com a voz de John Kennedy - diversas cenas da história da Liga são mostradas, entre elas a famosa luta contra Starro, que marcou o debut da Liga nos quadrinhos)

terça-feira, 26 de outubro de 2010


Adjustment Bureau


Philip K.Dick foi um dos grandes escritores de ficção científica da história. Além da obra referencial Blade Runner, seus textos e livros foram adaptados uma dezena de vezes, com maior ou menor grau de fidelidade, resultado obras como o estranho Scanner Darkly, o divertido e vazio Minority Report, o seminal Vingador do Futuro e os fracos O Pagamento e O Vidente. Por isso é esperar pra ver se o conceito de uma organização que monitora o mundo para que nossas vidas sigam exatamente um plano pré-determinado. Quando o personagem de Matt Damon tenta fugir dessa condição passa a ser perseguido. Veremos se o trailer enganou ou refletiu a boa qualidade da obra.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010


O Tigre e o Dragão
(Crouching Tiger, Hidden Dragon - 2000)


Ang Lee é um dos diretores mais interessantes de sua geração. Em sua carreira construiu dramas intimistas, filmes de época, romances gays e até um filme de artes marciais, que era mais (como em boa parte de sua filmografia) do que parecia ser sua fachada simplista.

O "tal" filme de artes marciais é o Tigre e o Dragão, que na superfície é um simples filme de roubo. Temos um casal - que se ama mais que não se envolve - e uma ladra. O homem (Li Mu Bai, vívido por Chow Yun Fat) deseja abandonar sua vida de guerreiro e para tanto pede a sua amiga e paixão platônica Shu Lien (Michelle Yeoh) que leve de presente sua espada, a um velho amigo, para que essa permaneça num lugar que respeite a história da arma. Quando Lien entrega a espada, conhece uma jovem garota (a ladra, Jen Yu - num dos primeiros papéis de Zhang Ziyi no cinema) que é filha do governador e que está prometida a um casamento que desgosta. Além disso, ela esconde um segredo. Treinou por dez anos com a furtiva assassina conhecida como Raposa de Jade (Pei-pei Cheng) e envolveu-se num tórrido romance com um nômade do deserto (Lo, vívido por Chen Chang). Provando ser irresponsável e viciada em adrenalina resolve roubar a espada dando origem à perseguição do casal a garota e por conseqüência confrontos espetaculares com ela e sua mestra.

O que faz de O Tigre e o Dragão ter seu lugar gravado na história do cinema é a capacidade de Lee e sua equipe que conseguiram deixar palatável para um público ocidentalizado uma típica história oriental, cheia de desencontros, sutilezas e relacionamentos trágicos. Lee, um excelente diretor quando a emoção é o elemento básico de sua "brincadeira" ousa aqui ao juntar a estética dos filmes de Hong Kong a sua panela.

O chamado "wire fu" - que causou choque aos ocidentais não acostumados com isso - é conseguido através do uso de cabos que içam os atores como marionetes para que esses pareçam voar em tela. Quando lançado em circuito mundial, causou estranheza aos olhos acostumados com seqüências de ação vertidas de sangue, tiros e cortes de câmera abruptos. O "wire fu" - que depois foi tolamente copiado ad nauseum pelos ocidentais, banalizando a técnica - contrapõe essa idéia americanizada de condução da ação. Tudo é feito com elegância, classe e destreza. Como se a cada movimento dos espadachins não presenciássemos golpes, mas passos de um balé mortal, como praticantes de tai-chi coreografando cada movimento como uma peça orquestrada. Um cuidado que aos olhos acostumados aos hormônios do cinema pipoca americano, pode ter assustado.

Existe todo um cuidado minucioso em cada aspecto da produção, a direção de arte (Eddy Wong, Xing-Zhang Yang e Zhanjia Yang) - por exemplo - é sutil ao inserir o espectador no período em que o filme se passa, mas é suficientemente inteligente para perceber que quanto mais fossem exagerados com os objetos de cena e cenários, mais afastariam o espectador do que seu diretor queria verdadeiramente mostrar: seus atores e suas magníficas coreografias. Por isso tudo é simples, e com aparência de uso e verdadeiro. Mesmo os figurinos (Tim Yip) seguem o "clean" da direção de arte. Quimonos claros, ou vestes escuras. Apenas a personagem da mulher do governador ousa um pouco mais, com o uso de cores mais fortes, como vermelho e rosa. Outro acerto, pois coloca aquela personagem como estranha naquele meio. Alguém que verdadeiramente não pertence aquele mundo de lutas e batalhas.

Outro destaque técnico é a deslumbrante fotografia de Peter Pau. Além de esteticamente ser irrepreensível sabendo dosar com parcimônia os claros e escuros e destacar determinadas cores para ilustrar o que seu diretor queria dizer (exemplo claro é a batalha sobre os bambus, onde o verde - que até então não se destacava - "grita" na cara do espectador, realçando a condição de quase magia que a cena quer passar) tem paciência para, nas seqüências de ação, mostrar o que acontece em tela, apesar de cada batalha ser formada de inúmeros movimentos. O espectador não perde um detalhe, um movimento, e Peter - com o aval do diretor evidentemente - ainda consegue diferenciar cada "briga" com sua câmera. Na primeira, noturna, a condição da velocidade e do campo aberto é valorizada, a batalha no bar é ajudada pela quantidade de cadeiras e mesas transformando cada ação em um eventual clímax, enquanto a já citada batalha do bambuzal é onírica e poética, com a bela trilha de Tan Dun atingindo seu auge.

Mas todos esses detalhes técnicos soariam vazios se Ang Lee não conseguisse o que poderia parecer impossível. Misturar o romance trágico com espadachins voadores parecia uma tarefa hercúlea, mas Lee foi humilde o suficiente para não se encantar com a beleza do visual das batalhas do "wire fu" e montou seu filme como seus trabalhos anteriores. Em primeiro plano estão aqueles personagens e aquela história, sendo cada batalha um reflexo do momento emocional de cada personagem. Mu Bai, que é apresentado como um homem em paz e convencido de sua "aposentadoria" luta quase como um dançarino. Esquiva-se e ataca com precisão cirúrgica atingindo o adversário com menor esforço possível. Já a irascível Jen ataca com rapidez mas sem método, desastrada, apesar de mortal. Reflexo de sua fragilidade emocional. Já sua mestra Raposa de Jade ataca sutilmente. Ao usar do artifício das agulhas envenenadas predispõe acreditarmos que ela evitaria um confronto direto se pudesse. Reflexo de sua personalidade ardilosa e vilanesca.

Lee foi inteligente ao usar esse recurso não afugentando do filme seus fãs que poderiam estranhar ver o diretor num filme - dito - de artes marciais. Porém o Tigre é muito mais do que somente um exemplar do cinema de ação made in Hong Kong, é o mais bem acabado exemplar da junção entre esse cinema com a densidade encontrada no cinema de arte, misturando com magia Wo-Ping Yen (responsável pelas coreografias de luta) com um exemplar de uma clássica história de amor perdido, como Romeu e Julieta por exemplo.
Além disso, o sucesso mundial do filme abriu portas para outros cineastas do circuito de arte se aventurarem no cinema de ação. O maior exemplo disso é Zhang Yimou, famoso por filmes como Lanternas Vermelhas que "pariu" Herói, Clã das Adagas Voadoras e Maldição da Flor Dourada, todos misturando histórias trágicas com o melhor dos cabos do mestre Ping Yen.

Tigre e o Dragão mostra-se então, além de um tremendo filme, um marco para a cinematografia mundial, pois uniu com grande sucesso dois opostos até então tão distantes como água e óleo, apresentando para o grande público o melhor das artes marciais com o recheio de uma grande história de amor.

(Postado originalmente em: www.senpuu.com.br)

sábado, 23 de outubro de 2010


Howl


Que o pessoal do Fotograma tem uma admiração pelo trabalho de James Franco fica claro pelas sempre elogiosas linhas dedicadas ao ator. Mas será que Howl vai traduzir isso em premiação? Franco vive o poeta Allen Ginsberg um dos mitos do movimento beat, e pelo que o trailer mostra as saídas dos diretores Rob Epstein e Jeffrey Friedman parecem ter sido bem escolhidas. E para a alegria dos fãs de Mad Men , John Hamn também está no elenco, assim como outros muitos talentosos atores. No trailer vemos Jeff Daniels, David Stratahm e a belíssima (mesmo loira) Mary-Louise Parker .

sexta-feira, 22 de outubro de 2010


A grande diferença entre um grande clássico e um filme cult é simples: Cult é aquele filme que você gosta e não necessariamente é tão bom assim (alguns até são), mas que por algum motivo você adora, se diverte e indica aos amigos. O caso é que na ânsia de encaixar esses filmes em alguma sessão, o Fotograma resolveu criar essa nova sessão, onde aqueles filmes amados e cultuados serão aqui comentados. Sempre de maneira leve e divertida, como pede um filme cult.

Matinê: Uma Sessão Muito Louca
(Matinee, 1993)

Imagino o sufoco de cineastas ancestrais em produzir efeitos de qualidade para prender a atenção do público. "Como foi feita a cena em que Moisés, vivido por Charlton Heston, abre o Mar Vermelho para a passagem de milhares de judeus na mega produção de Cecil B. Demille Os Dez Mandamentos?" é uma pergunta que já se tornou clichê no universo dos efeitos especiais. De lá pra cá muita coisa mudou (e pra bem melhor), mas se banalizou muita coisa também. E esse ramo começou por conta dos esforços de diretores pioneiros que arriscaram quando ninguém queria saber de nada além do óbvio. Diretores como Lawrence Woolsey (John Goodman em atuação fantástica), o visionário filmmaker de Matinê: uma sessão muito louca, nostálgica película do mestre Joe Dante.

Tudo se passa em Key West, pequena cidade do estado da Flórida, em plena era da crise dos mísseis e da luta Kennedy X Fidel em 1962. Os ãnimos da população mudavam como quem muda de roupa, pois havia uma incerteza quanto ao futuro: estaremos aqui amanhã ou seremos abatidos à tarde? Todo um clima de paranóia generalizada se instaurava nas ruas, as crianças filhas dos militares sequer podiam sair das bases e conhecer o aroma das ruas. E nesse cenário desolador Woosley, mestre do sensacionalismo decide tirar proveito disso. Como? Produzindo a maior revolução cinematográfica da história, o filme Mant! sobre um homem que sofre uma terrível mutação após uma tragédia nuclear e acaba virando uma simbiose entre homem e formiga. Ardiloso e louco na mesma medida, o diretor convence o dono da sala de cinema da cidade a utilizar a sua tecnologia inovadora, prometendo uma plateia jamais vista na região. O resultado é simplesmente arrebatador!

Fazendo uso de efeitos baratos, a maioria deles através de roldanas e mecanismos arcaicos, o filme toma a plateia de susto e transforma o pacato vilarejo no cartão-postal do cinema moderno. A fotografia de magníficos planos abertos de John Hora associada ao roteiro debochado de Jerico e Charles Hass, que foca principalmente nos duelos familiares e no clima de tensão do período, prendem a atenção do público até o arremate final (no caso, a sessão de Mant!). Impossivel não guardar lembranças as mais positivas de uma época em que o cinema não se escorava em excessivas tecnologias e aparatos para gerar bilheterias vultosas.

Pensar o sucesso de Matinê na época em que foi produzido é, em poucas palavras, pensar a necessidade da sétima arte voltar a ser simples para encantar as plateias (hoje carentes de ídolos e de boas histórias). Ver os olhinhos grudados dos espectadores a cada surpresa, objeto ou inseto estilizado que atravessava seu caminho a cada 10 minutos de filme numa sucessão de reveses que faziam a sessão de cinema parecer um passeio no trem-fantasma do melhor parque de diversões do mundo é, acima de tudo, deixar registrado o respeito dos realizadores daquele tempo pelo público, diferentemente de hoje em que se recorre a qualquer 3D, Imax ou outro suporte para encarecer o preço do ingresso e, muitas vezes, só servindo para estragar o divertimento e fazer as pessoas (quase) pedirem de volta o dinheiro na bilheteria.

Um filme para ser admirado - certamente Tim Burton e Guillermo del Toro beberam dessa fonte como inspiração para seus longas Marte Ataca e O Labirinto de Fauno - e, principalmente, resgatado pelas novas gerações. Quem sabe depois de acompanhar esse exemplar genial eles não entendam de uma vez por todas que cinema é isso aqui: dar alegria às pessoas.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010


Fair Game



Doug Liman, Sean Penn e Naomi Watts são os motivos para que Fair Game (que tem o título igual a bomba atômica protagonizada por Cindy Crawford nos anos 90) possa, talvez, sair da vala comum. Parece uma versão "adulta" de Salt, e talvez seja extamente essa semelhança aparente no trailer que possa derrubar o filme perante ao público. Resta saber o que Liman está preparando por baixo da fachada.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Nowhere Boy
(Nowhere Boy, 2009)
Drama - 98 min.

Direção: Sam Taylor-Wood
Roteiro: Matt Greenhalgh

Com: Aaron Johnson, Kristin Scott-Thomas, Anne-Marie Duff

Essa cine-biografia de John Lennon não tem a pretensão de ser o retrato final da vida e obra de um dos grandes artistas da história da música mundial. A diretora Sam Taylor-Wood faz por John Lennon o mesmo que Walter Salles fez (em proporções muito menores, é claro) por Che Guevara em Diários de Motocicleta. Em Nowhere Boy o espectador acompanha os "anos perdidos" do ex-Beatle, antes (muito antes) da fama, quando o garoto ainda não conhecia Paul, George e Ringo e nem mesmo pensava em cantar.
Quando o filme começa Lennon é um legítimo Nowhere Boy (na tradução livre: um garoto sem rumo), desordeiro, sem propósitos na vida além da curtição.

John, nesse período, vivia com seu tio George e sua tia Mimi, que cuidaram de John depois que sua mãe o "abandonou". Tudo muda quando George falece e durante o velório, John revê sua mãe, com quem tem uma relação inexistente. Um de seus primos descobre onde ela mora, e a relação entre mãe e filho (estranhíssima) é mostrada pelo filme como estopim para o interesse do garoto pela música e pela suposta liberdade que ela proporciona.

No entanto, o filme não é suficientemente interessante para sair do barril dos filmes medianos ou medíocres. A relação de John e sua mãe, apesar de boas atuações de Aaron Johnson (de Kick Ass) e Anne-Marie Duff (The Last Station), é esquemática e melodramática, assim como a relação do garoto com sua tia Mimi (Kristin Scott-Thomas).

Você já viu esse filme antes e até o final a previsibilidade toma conta da produção. É aquele tipo de filme que tenta de todas as formas emocionar o espectador, apelando para convenções óbvias como: o garoto enjeitado, a mãe com problemas, o padrasto que não aceita a reaproximação entre mãe e filho, a tia enciumada, a "revolta" adolescente entre outros.

Além disso, e apesar de se esforçar, Anne-Marie Duff não convence como mãe do garoto. Mesmo que a relação dos dois seja "estranha", a atriz não apresenta elementos em sua interpretação que ajudem ao espectador a entendê-la. Uma personagem "proto-junkie" patética que a cada frame indica seu fim, que por sinal é apelativo e piegas.
Por outro lado, Kristin Scott-Thomas - uma atriz de belos trabalhos - mantém a dignidade britânica de sua personagem mesmo quando exigida de maneira mais visceral. Peca na seqüência em que cai no choro, não tanto por sua culpa - e de sua interpretação - mas porque o filme telegrafa esse momento desde o início da seqüência. Uma pena.

E Aaron Johnson, tendo sem dúvida o trabalho mais difícil, sai-se razoavelmente bem. Tenta com sucesso em alguns momentos, imitar o quase incompreensível sotaque de Lennon, e apesar de não ser parecido com o cantor, tem uma boa performance. É sabotado pelo roteiro (Matt Greenhalgh) que não consegue manter o espectador verdadeiramente interessado naquela óbvia narrativa.

Para os neófitos, temos sim os Beatles. Na verdade, Paul (vivido por Thomas Sangster, o garoto de Simplesmente Amor e Nanny McPhee) e George (Sam Bell), numa banda que viria a ser o embrião dos "besouros". Não comprometem e a relação de Ying e Yang entre Paul e John já está presente, com constantes discussões entre os dois.

A fotografia (Seamus McGarvey) segue o marasmo do filme, e aposta no sépia para as cenas internas e nos filtros para quase impedir que o filme tenha contraste. Tudo é muito clean, muito "casinha de boneca", o que deve ser a idéia da diretora de viver no subúrbio inglês no fim dos anos cinquenta.


Nowhere Boy não é - e não conheço o tal - o filme sobre a vida de Lennon. É sobre esse garoto perdido, que descobre uma paixão e se reencontra com seu passado. Não é ruim, mas falando de um dos maiores artistas do século, poderia ser muito melhor.

terça-feira, 19 de outubro de 2010



O filme de título original Full Metal Jacket, foi nomeado em português como Nascido para matar. A tradução não foi literal e o título em português sugere a idéia de um filme violento.


As letras datilografadas, pretas em um fundo branco e em caixa alta. Pelo fato das cores e letras usadas serem mais básicas, a expectativa criada é de um filme que vai passar a mensagem desejada de forma simples e direta.

À primeira vista, o título é evocativo por fazer referência à “full metal jacket”, sendo de alguma forma também, enigmático. A tradução especifica que alguém é o “nascido para matar”, o que pode nos remeter ainda a um personagem do filme.

O cartaz da produção cinematográfica em questão ressalta o diretor (Stanley Kubrick’s…), sem grande destaque para os atores. Por não haver nenhuma foto de pessoa neste material promocional, há o indício de que o tema será mais destacado.

As letras menores no cartaz contêm o nome do estúdio, do diretor, dos atores principais, dos produtores, co-produtores e ainda indica que a história é baseada em um romance escrito por Gustav Hasford. Não há referência a nenhuma premiação.

A imagem utilizada para ser a porta de entrada da produção está em primeiro plano e mostra um capacete usado por soldados, com a inscrição “born to kill”, o que explica a tradução do título já citada.

De forma contraditória ou até irônica, há no capacete o símbolo usado pelos hippies e abaixo dele munição de armas de guerra, tal imagem sugere que o tema abordado será a guerra do Vietnã.


As cores do capacete remetem à vestimenta militar e o fundo branco destaca a imagem principal que está centralizada. Há ainda ênfase no nome do diretor, o qual inclusive consta no título da obra. A tag-line “in Vietnam the wind doesn’t blow it sucks”, indica que serão mostradas as situações difíceis enfrentadas pelos soldados em uma Guerra cheia de controvérsias como a do Vietnã.

Após assistir ao filme, algumas observações puderam ser feitas. O título original é citado pelo personagem Pyle antes de se matar. Ele tem nas mãos um rifle e diz ao seu amigo que o tipo das balas usadas são as revestidas de metal (full metal jacket).

Já o título em português e a imagem principal do cartaz, têm referência primeiramente no treinamento, no qual os soldados são motivados sempre a matar. Em um segundo momento, há alusão explícita no capacete usado pelo soldado Joker, com a inscrição “born to kill”.


Ao mesmo tempo, como é mostrado no material promocional, o soldado Joker usa em seu uniforme um botton com o símbolo hippie da paz e, ao ser questionado sobre isso, afirma ao seu superior que o usa para mostrar a dualidade dos homens.Sendo assim, o filme utiliza muito mais de simbologias para passar sua mensagem, confirmando a idéia de não destacar nenhum ator e/ou personagem para a divulgação da produção.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Morte do Superman(Superman/Doomsday, 2007)
Aventura - 75 min.

Direção: Lauren Montgomery, Bruce Timm e Brandon Vietti
Roteiro: Duanne Capizzi e Bruce Timm

Com as vozes de : Adam Baldwin, Anne Heche e James Marsters

O primeiro filme da nova leva das animações da Warner/DC adapta para as telas a discutível (para os fãs das hq's) saga da Morte e do Retorno do "Homem de Aço". Na história original dos quadrinhos após enfrentar "na mão" o monstro espacial Apocalipse - que simplesmente surge na terra, sem grandes explicações sobre - o herói cai desfalecido nos braços de sua amada, Lois Lane, numa das grandes cenas dos quadrinhos dos anos noventa - não entrando no mérito da qualidade da história até ali.

O que segue na HQ é o funeral e o eventual retorno, que nos quadrinhos acontece numa mini-série intitulada "O Retorno do Superman" que apresenta não um, mas quatro postulantes ao cargo de Superman. Dentre eles temos um jovem herói intitulado posteriormente de Superboy, um cientista negro brilhante que vem a ser chamado de Aço, um misto de homem e máquina que - durante a série - é chamado de Superman-Ciborgue e um quarto personagem que usa óculos escuros e que - durante a série também - vem a ser chamado de Erradicador.


Pois bem, nos quadrinhos a série se desenvolve até o surgimento do verdadeiro Superman , que volta dos mortos - com uma explicação fajuta - e enfrenta alguns desses novos heróis com resultados seminais para a continuidade de outros personagens da editora.

O que a produção de Lauren Montgomery, Bruce Timm e Brandon Vietti fez foi limar o que para eles era considerado exagerado, transformando quase 200 páginas de histórias em uma animação de 70 minutos. As mudanças partem do básico. Existe uma motivação para Apocalipse ter ido parar na Terra, não existe esse batalhão de outros heróis que querem tomar o nome do Homem de Aço e Lex Luthor tem um papel mais importante na trama do que no original.

Optando por adaptar uma "saga", o filme também foge da história tradicional de origem do herói, principalmente porque no caso de um personagem tão poderoso culturalmente quanto o Superman, torna-se dispensável esse tipo de história, levando-se em conta principalmente dois fatores: a história de origem do herói já foi contada no cinema no clássico Superman de Richard Donner e o público a que essas animações é destinada já conhece o herói, sua identidade secreta, aliados e a maioria dos vilões.


As mudanças da HQ para a tela surgem de forma inteligente e que dão mais fluência ao texto original, além de trazer a história - originalmente dos anos 90 - para os dias de hoje, com uma série de referências ao período. Outra característica, que veio a se tornar marca importante das animações da DC, é a tentativa quase sempre feliz em jogar os personagens num contexto mais adulto, com maior desenvolvimento dos personagens e de suas ações.

Por exemplo, de cara somos apresentados a notícia de que Clark Kent - o Superman - está a serviço do jornal que trabalha no Afeganistão e que Lex Luthor lucra com a solução de doenças (como câncer e AIDS). Mesmo a primeira apresentação do Superman foge do que o público poderia esperar. O herói não surge enfrentando algum super-vilão, mas a caça da cura do câncer.

Agindo assim, o filme sedimenta sua base no realismo e foge do infantil. Seu foco é no fã de HQ, que há muito tempo deixou de ser o moleque de 10 anos, e passou a ser o jovem adulto/adulta que tem conhecimento do que ocorre ao seu redor.


Outra característica que reforça ainda mais essa intenção do estúdio em transformar seus personagens em pessoas mais críveis e a forma com esses se relacionam. A relação de Lois e Superman por exemplo é um triunfo enorme, em especial na primeira parte da história. Apresentados como um casal normal, que tem como principal problema (e uma eventual DR por isso) o fato de Superman mal ter tempo pra cultivar essa relação, algo que os quadrinhos exploraram com competência, mas que as outras mídias ainda não tinham abordado. Outra curiosidade é que os diretores não fugiram da óbvia malicia presente na relação do casal, com direito a conversinhas de duplo sentido sobre "a noite anterior".

O plot básico é o mesmo da HQ, em tese. Apocalipse surge - dessa vez com uma explicação para sua chegada - e devasta Metropolis. Superman parte para impedi-lo e por fim tomba.


A primeira parte do filme, que apresenta todas as características interessantes que citei acima e que culmina com a queda do herói é extremamente competente. Apesar de durar cerca de trinta minutos, o ritmo ágil, o bom humor e o sentimento de urgência fazem a longa seqüência da briga entre o vilão e o Homem de Aço - e que ocupa quase metade dessa primeira parte - um triunfo. Seguindo esteticamente o padrão Warner que veio da série de TV do Batman (falarei dela no futuro aqui no especial) apresenta seqüências de ação bem montadas e que procura mostrar ao público a força descomunal dos dois combatentes.

O problema é que a partir da morte do herói, o filme perde terreno. Exatamente no momento em que passamos a parte do Retorno, a produção não consegue manter o mesmo ritmo ágil e interessante. Mesmo assim, o segundo ato guarda a cena mais bonita e tocante de toda a produção e uma das mais impressionantes nesses anos de longa da DC em animação. Quando Lois finalmente percebe a identidade de Superman e procura a mãe de Clark, desaba em lágrimas colocando pra fora sua sensação de perda que até aquele momento parecia derradeira. Parabéns a equipe e a atriz Anne Heche (de diversos papéis importantes no cinema) pela composição e pela entrega emocional.

E paramos por ai. Apesar das mudanças - em relação a HQ - serem interessantes e mais plausíveis, além de não superlotar a tela com dezenas de outros personagens, o filme cai na vala comum, de perseguições, explosões, tiros, batalhas exageradas e tudo mais que compõe o pacote da diversão escapista.


O retorno do Superman também surge de maneira pouco convincente, com um fiapo (frouxo) de justificativa e que não convence o espectador mais exigente, assim como todo o desenvolvimento do arco final que peca pela correria. Mais vinte minutos a história - e isso vai ser uma reclamação recorrente nas críticas das animações DC - e talvez tivéssemos uma história melhor.

A questão técnica não modifica o que a Warner vinha fazendo até então em suas séries de TV. Como disse acima, é o mesmo padrão de qualidade da série de Batman/Superman/Liga da Justiça com algumas pequenas e sutis alterações nos personagens. Nesse primeiro filme, ainda vemos muito pouco de CG nas construções dos cenários e na ação o que é mais um elemento que dialoga com as séries da Warner.



O elenco da versão original também é muito bom e recheado de nomes interessantes. Além de Anne Heche como Lois Lane, Adam Baldwin é o Superman e James Marsters é Lex Luthor. Dos três senti falta do vozeirão grave e soturno de Clancy Brown, que habitualmente faz a voz do vilão.

Esse é o primeiro, e serve como rito de passagem das séries de TV para o mundo das animações em longa metragem. Uma pena que o começo tão inspirador não é mantido durante toda a produção, resultando em um filme divertido mas esquecível.