sexta-feira, 29 de abril de 2011

London Boulevard
(London Boulevard, 2010)
Thriller - 103 min.

Direção: William Monahan
Roteiro: William Monahan

Com: Colin Farrell, Keira Knightley, Ray Winstone, David Thewlis e Ben Chaplin



William Monahan é um escritor com grandes sucessos na carreira e London Boulevard marca sua estréia na cadeira de diretor. Monaghan "pariu" Cruzada, Rede de Mentiras, O Fim da Escuridão e recebeu o Oscar na categoria de melhor roteiro adaptado pelo seu Os Infiltrados, filme de Martin Scorsese que adaptou Conflitos Internos para o paladar americano.


Esse London Boulevard (que ele também assina o roteiro e produz) é um exemplo correto do subgênero do filme de gangster, e conta a história de Mitchell, um homem recém saído da cadeia e que se envolve em um dilema moral e emocional: manter-se como mais um gangster assumindo os riscos da "profissão" ou deixar essa vida, com a oportunidade que uma estrela reclusa perseguida por paparazzis lhe oferece para trabalhar como uma espécie de segurança privado.


Colin Farrell - muito a vontade como bad-boy em um papel que tem muito do que o ator transparece fora das câmeras - interpreta Mitch, alguém que todos ao seu lado temem e respeitam. Keira Knightley, interpreta a estrela reclusa que serve como fada madrinha ao gangster. O filme conta com uma serie de atores interessantes e talentosos como coadjuvantes. David Thewlis vive um hippie doidão que serve como protetor para a personagem de Keira. Ben Chaplin, irreconhecível como um bandido de quinta e Ray Winstone interpretando com sua persona completam o elenco de ingleses notáveis no filme.


Apesar de ser recheado de momentos cool e belas imagens, London Boulevard é correto e nada mais. Você já viu essa história antes, e Monahan recicla clichês e entre tentativas e erros o saldo é mediano.



Acerta com seu elenco,mas erra no texto de alguns deles. A relação de Mitch e sua irmã Briona (a sexy Anna Friel) é mal conduzida e mal resolvida não causando o menor impacto emocional no personagem de Farrell. Mesmo Knightley varia sua interpretação em momentos delicados (na revelação na casa de campo, por exemplo) com outros de pieguice completa. Thewlis excêntrico em exagero só se torna um personagem interessante nos últimos minutos da projeção e apesar de ter um final "surpresa" e de mordaz ironia não convence no conjunto.


London Boulevard é um protótipo de tudo o que o cinema de gangster pretende ser: ágil como narrativa, com quilos de imagens ora engraçadas por sua bizarrice, ora absurdas pela própria situação, um vilão "malvado", um herói quase tão malvado, uma mocinha indefesa e coadjuvantes bem humorados (ou não). Uma pena que Monaghan quis misturar tudo em uma só história, que apesar de bons momentos aqui e ali, não é nunca inesquecível e obrigatório.

quinta-feira, 28 de abril de 2011


O Palhaço




O segundo filme do talentosíssimo Selton Mello, segue a linha melancólica de seu debut, o pesado Feliz Natal, mas com um tom mais cômico. A fotografia excelente, com tons amarelados com granulação, ajuda a sustentar a trama dramática, do palhaço que "perdeu a graça", vivido pelo próprio Selton. O teor da narrativa e os enquadramentos inspirados de Mello remetem aos filmes sensoriais americanos e aos dramas argentinos, inspiração explícita do diretor. Não só divertida e tecnicamente irretocável, a comédia aposta nas atuações de Paulo José e Mello, se consolidando como uma grande promessa pra esse ano. Um desafio para o diretor, que pela primeira vez vai se dirigir, parecido com o que aconteceu recentemente com Ben Affleck, em Atração Perigosa. Recomendadíssimo.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Separados pelo Destino
(Aftershock, 2010)
Drama - 135 min.

Direção: Xiaogang Feng
Roteiro: Wu Si

Com: Fan Xu, Jingchu Zhang, Chen Li, Yi Lu, Guoqiang Zhang e Daoming Chen



Assistir Aftershock, produção chinesa sobre uma família destroçada pelas duas grandes tragédias causadas por terremotos da história do país, com o eco do Tsunami no Japão nos ouvidos é muito mais doloroso.


O filme conta a história da família do motorista de caminhão Fang Qiang (Guoqiang Zhang) e sua esposa Li Yuanni (Fan Xu) a partir do terremoto ocorrido na cidade de Tangshan em 1976. Apesar do tremor ter durado menos de um minuto, os resultados foram catastróficos para a cidade. Fang - e isso não é spoiler, pois acontece logo no início do filme - morre soterrado e Li vê seus dois filhos (Fang Deng e Fang Da) presos e condenados ao mesmo destino. A equipe de resgate improvisada - formada por habitantes da cidade - expõe a triste realidade a mãe e oferece a cruel opção de escolher entre seus filhos para salvá-los. Li opta por seu filho homem e deixa a pequena Fang Deng para morrer.


O que ela não sabe é que Deng manteve-se acordada durante essa acalorada discussão e mais tarde consegue milagrosamente sobreviver.



Considerada um símbolo da tragédia, a garota é adotada por dois funcionários do governo chinês (o casal Wang) que a tratam como filha legítima. Enquanto isso Li segue sua vida e cuida de seu filho que vive com seqüelas do acidente.


Aftershock é quase ... E o Vento Levou chinês tamanho o escopo e dimensão grandiosa de seus eventos e de sua história. Um drama extremamente bem construído que consegue com muita segurança partir dessa tragédia para contar - o verdadeiro centro do filme - a história dessa família abalada e marcada para sempre. Sem exagerar no melodrama e apostando tudo nas fortes interpretações de seus atores principais (a atriz Fan Xu que interpreta a mãe e principal personagem do filme é espetacular) o filme consegue fugir das obviedades das produções épicas envolvendo famílias em conflito.


Os efeitos visuais responsáveis pela recriação do terremoto do início do filme são verossímeis e funcionam muito bem, assim como a direção de arte que amplifica o escopo do filme, deixando-o ainda mais intenso. A fotografia segue a cartilha, especialmente quando o filme avança no tempo para um período intermediário (nos anos oitenta), é possível ilustrar com precisão as mudanças que a China começava a enfrentar. As imagens idílicas da universidade contrastam muito bem com o rigor e o cinzento apartamento da família adotiva de Deng.



O mais empolgante no filme é a forma como o roteiro de Wu Si consegue misturar organicamente (apesar de óbvias e necessárias suspensões de crença aqui e ali) as duas histórias afim de conseguir entrelaçá-las. A linha narrativa de Li é mais interessante e intensa que a de sua filha perdida durante boa parte da projeção. Li é uma mulher dividida ao meio, que acredita ter perdido parte de sua própria alma quando precisou escolher entre seus filhos. Sua insistência em manter-se na mesma cidade desde sempre é mais um desses indícios de que sua vida não existe mais e que ela mantém-se em pé apenas como penitencia por suas escolhas. Já sua filha Deng, parece sempre deslocada e absorta em tentar sempre encontrar o seu lugar, mas sem a mesma intensidade ("culpa" talvez da atriz Jingchu Zhang) que a personagem de sua mãe tem.


Por fim é preciso destacar a performance inspirada de Daoming Chen, que interpreta o pai adotivo da garota, que é impressionante. A jornada de seu personagem é delicada, e dotada de grande sensibilidade do ator, que consegue fazer de Mr. Wang um homem tri-dimensional e que apesar (e isso é um mérito da produção exemplar) de ser um homem do governo comunista, não age como boa parte dos ocidentais imagina que ele agiria quando por exemplo, encontra sua filha com roupas curtas trancada num quarto com outro rapaz. Sábio em toda a produção, Mr. Wang é a visão chinesa sobre seus comandantes. Uns podem acusar o filme de chapa branca por não existir uma só critica ao governo comunista chinês e afins, mas, é interessante observar uma outra visão de um assunto tão machucado pelas palavras de gente que não participa da vida daquela gente.



Aftershock é um belíssimo exemplar de drama humano, com a grandiloqüência de um épico que consegue manter sua integridade e poucas vezes resvala na pieguice e no excesso de doçura, tão comum a esse gênero. Em suma, o filme do diretor Xiaogang Fang não procura tirar lágrimas dos espectadores, mas sim, fazê-los se solidarizar com aquela família que por circunstancias inerentes a sua vontade foi marcada para sempre. Mas do que fazer chorar, Aftershock busca a comunicação com nossas emoções e sentimentos, e num momento como esse, com seguidas tragédias acontecendo dia após dia, não chega a ser um exercício tão complexo, embora nesse caso, seja concluído com grande sabedoria.


terça-feira, 26 de abril de 2011

Notre Jour Viendra
(Notre Jour Viendra, 2010)
Drama - 90 min.

Direção: Romain Gravas
Roteiro: Romain Gravas e Karim Boukercha

Com: Vincent Cassel e Olivier Barthelemy



Quando li que o diretor desse drama existencial era o filho de Costa-Gravas imediatamente imaginei que o óbvio seria que, vindo de um lar politizado, Roman Gravas rechearia seu filme de discursos políticos e criticas a sociedade.


Notre Jour Viendra (em tradução Nossa Hora Chegará) não chega a levantar diretamente bandeiras, mas faz sim suas críticas a uma sociedade que não dá espaço e maltrata aqueles que são diferentes ou que não se enquadram em lugar algum.


O protagonismo divide-se entre o adolescente todo hormônio Rémy (Olivier Barthelemy, de Satã e Inimigo Público nº1 - Parte 2) e o psicólogo perturbado e quase niilista Patrick (Vincent Cassel) que se encontram em uma noite e passam a correr atrás de alguma coisa ou lugar que nem mesmo os personagens conseguem definir com exatidão.



Remy tem problemas em casa, odeia sua mãe e irmã, não aceita seu corpo nem sua sexualidade (na verdade nem sabe se tem alguma) e é enganado por sua "namorada virtual". Patrick é orientador em uma entidade francesa e apesar de ser um grande mistério - em especial sobre suas motivações que nunca são claramente expostas - nota-se que vive em profunda agonia e tristeza e enxerga no encontro acidental com o garoto uma oportunidade de "salvá-lo" ou ensiná-lo.


Durante o processo, Roman apresenta uma série de situações exageradamente absurdas e com a intenção clara de chocar o espectador, para criticar a sociedade morta-viva e seus conceitos perturbados e ultrapassados, segundo a idéia do diretor. Entre essas situações, destaca-se imediatamente a sequencia em que Cassell confronta um casal em uma jacuzzi ou a do casamento em que Remy força os convidados a se beijarem contra suas vontades ou a perversão sexual de Patrick encerrada abruptamente.


Não existe exatamente uma jornada, apenas uma obsessão de Remy com a Irlanda, onde "descobre" que boa parte da população é ruiva como ele, o que (em sua cabeça) talvez o ajude a sentir-se menos rejeitado/excluído.



Patrick por sua vez dá corda ao garoto e Cassell consegue apresentar um de seus mais intensos desempenhos em anos, sempre a beira do colapso mental eminente.


Gravas parece ser um diretor adepto do improviso ou que dá muita liberdade a seu elenco para brincar com o texto, transformando as situações absurdas (o confronto na concessionária é impagável) em realistas apenas pelo uso inteligente do dialogo. Esteticamente, tenta deixar cada situação vivida por seus personagens em seu road movie pitoresco, com uma cara própria mas que não fuja da imagem geral do filme.


Por vezes exagerado em sua tentativa de soar poético, mas criticando com eficiência certas questões hipócritas do ser humano e mais do que isso, sendo sensível ao mostrar um garoto absolutamente perdido que encontra alguém "louco" o suficiente para ouvi-lo e tentar entende-lo, sem julgar suas intenções ou agredi-lo somente por ser diferente.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Morte e Vida de Charlie
(Charlie St. Cloud, 2010)
Drama/Romance - 99 min.

Direção: Burr Steers
Roteiro: Craig Pearce e Lewis Collick

Com: Zac Efron, Charlie Tahan, Amanda Crew, Donald Logue, Kim Basinger e Ray Liotta



Pois é, não é que Zack Efron, o ídolo teen e cantor de High School Music é talentoso? Se o padrão de julgamento for esse A Morte e Vida de Charlie (título infeliz) dirigido pelo sobrinho de Gore Vidal, Burr Sterrs (o mesmo de 17 de Novo, com o mesmo Efron e do Cult, A Estranha Família de Igby), o rapaz parece ter um futuro interessante se souber escolher melhor seus papéis.


Não que esse drama semi-espírita seja um colosso, mas pelo menos não faz o rapaz e o restante da equipe passar vergonha. Se não é um primor é aceitável e funciona em alguns momentos.


Charlie St. Cloud (Efron) é uma jovem promessa do iatismo que após a morte do irmão menor em um acidente de carro , onde o mesmo dirigia, tira férias permanentes da própria vida. De menino prodígio se torna o estranho zelador/faz tudo do cemitério local.



O que ninguém sabe é que Charlie passou por uma experiência de quase morte e por isso adquiriu um estranho poder de se comunicar com os mortos, que para Charlie - e com ele - agem como seres vivos. Com esse dom, Charlie manteve o ritual de jogar bola com seu irmão morto todos os dias, pois tomado pela culpa, não consegue (parodiando Lost) "deixá-lo ir".


Efron apresenta um trabalho consistente como um jovem rapaz abandonado pela sorte e infeliz de ainda estar vivo. Talentoso, mas extremamente amargurado sobrevive a cada dia apenas como uma ante-sala para sua eventual morte.


Os problemas do filme são percebidos a partir do momento em que surge o óbvio interesse romântico de St. Cloud. Apesar do pudor (excessivo) na forma em que a relação dos dois é mostrada, o casal não convence junto. Efron parece estar atuando em um grau diferente de sua parceira de cena Amanda Crew.



Outro problema é a altíssima dose de sacarose que o filme apresenta. Basicamente, Sterrs quer fazer cada um de seus espectadores derramarem lágrimas pelos seus personagens, o que é difícil já que a rocambolesca história não consegue envolver o espectador, já que tenta sobreviver como romance (injustificado e inverossímil) esquecendo de resolver de verdade a relação de Charlie e de seu irmão morto (Sam), um garoto mimado e que contamos os minutos para que ele suma da vida de seu irmão.


Sterrs errou a mão ainda ao inserir uma forçada relação entre Efron e o personagem de Liotta (pagando as contas) e ao esquecer subitamente a mãe dos dois garotos (Kim Basinger, sumida e em ponta de luxo). Não parece real acreditar que a mãe dos garotos simplesmente "largaria" seu único filho e seguiria em frente, ainda mais quando notamos o desleixo com que Charlie vive sua vida.


Mesmo sabendo das suas óbvias intenções e limitações narrativas, era de se esperar algo menos óbvio do que "resgate heróico" para encerrar a produção. Numa era de Chico Xavier, Nosso Lar, As Mães de Chico Xavier e Além da Vida, Charlie St. Cloud é a versão light e menos "engajada" dessas histórias espirituais.



Tem um bom protagonista que se entrega em cada cena, mas tem coadjuvantes que não se acertam e uma narrativa frágil e com diversos furos (a descoberta da pista para o impulso do resgate heróico é de doer) o que compromete o resultado final da primeira incursão do astro teen no cinema adulto - ou quase.

sábado, 23 de abril de 2011

Pânico 4
(Scream 4, 2011)
Terror/Suspense - 111 min.

Direção: Wes Craven
Roteiro: Kevin Williamson

Com: Neve Campbell, Courtney Cox, Emma Roberts, Hayden Panattiere e David Arquette

Quando a volta de Wes Craven - o tóxico A Sétima Alma - chegou aos cinemas, foi uma decepção geral. Percebeu-se o que o diretor queria fazer, criar um novo serial killer maníaco para as telas, mas sua proposta foi extremamente mal-sucedida pelos péssimos diálogos e, principalmente, por levar a sério uma estrutura que ele mesmo satirizou anteriormente, na trilogia Pânico. A trilogia, por sua vez, estava prestes a se revitalizar, com os Irmãos Weinstein querendo um reboot o mais rápido possível. Porém, Craven não queria isso. Já que era pra reiniciar/continuar tudo, que fosse ele, o criador da série junto com Kevin Williamson. Então, nada seria melhor pra Craven que voltar a série que fazia graça justamente com que ele errou no filme passado. E na busca de atrair novos públicos, a campanha de divulgação toma como slogan a frase: Nova década, novas regras. Porém, essa frase, que é dita no filme mais de uma vez, não significa nada nesse novo Pânico. As regras antigas continuam vigentes e provam que o que assustava em 96, assusta ainda hoje. O que se renova é o elenco e a forma como a trama é mediada.



O começo do filme investe no que Williamson criou no próprio segundo filme: a série Stab. Retratada em tela de forma hilária, o conceito aparece apostando na mesma metalinguagem que a trilogia tratava tão bem. O conceito é devidamente explicado para o público atual (o que só mantinha a idéia de apresentar a série pra nova década), o que não causa incômodo algum pra quem já o conhece. Então, após essa introdução, surge uma grande cena com Ghostface e surge o título na tela, atropelando tudo. Interessante notar que Craven e Williamson corrigiram, aqui, o pequeno erro do primeiro filme, quando o título surgia de cara, antes do alarde da cena inicial com Drew Barrymore. Esse início, aliás, é bem parecido com o do filme de 96. Não apenas testando (e provando) que sua fórmula continua dando certo, Williamson parece querer desenferrujar a si mesmo, após 13 anos longe da série (Ehren Kruger assassinou o terceiro filme). Logo, não dá pra negar que os realizadores não querem, embora o marketing diga o contrário, criar novas regras pra essa década. O que funcionou no primeiro filme, a receita metalingüística da trama policial, é feito novamente.



E Williamson continua se desenferrujando ao criar novos personagens adolescentes e demonstrar que ainda consegue criar afiadíssimas conversas críveis aquele universo. Tendo bastante cautela antes de introduzir Sidney na trama, o escritor mostra que a cidade foi afetada pela série Stab de forma que não soa gratuita. Os Ghostfaces nos postes e a Stab-a-thon são as melhores. Os já ambientados na série vão perceber que a construção de personagens pode até ter sido atualizada, mas não muda em nada. Hayden Panattiere substitui Rose McGowan, Emma Roberts substitui Neve Campbell e os cinéfilos do clube substituem Randy. Já os não-iniciados também vão reconhecer, já que Williamson volta a mastigar as referências. Quando Roberts está no quarto com seu namorado e a janela está aberta, Sidney fala que "você me lembra muito eu no passado". Desnecessário, ainda que uma divertida referência ao primeiro.


Continuando nesse campo, Williamson aposta pesado na nostalgia. A mira ruim de Ghostface, que tinha que acertar ou bem de perto ou errar acertando no ombro, não só é satirizada como vira detalhe crucial pra trama. Suas aparições continuam a ser divertidas, mas são sempre escancaradas. A aparição na Stab-a-thon, por exemplo, é bem tosca. E são esses pequenos elementos que constroem Ghostface como um dos Serial Killers mais legais do cinema, com o roteiro tornando-o não só vulnerável (o quanto que ele sempre apanha de Sidney é incrível) como engraçado por si só (tropeçar não é uma novidade pro vilão).



Se os primeiros filmes criticavam o esquema óbvio das mortes em slasher movies (numa época em que o gênero era popular), o novo Pânico critica as franquias que preferem mostrar vísceras que pregar sustos. Jogos Mortais 4 "não é assustador, é nojento", a franquia Premonição idem. Tudo isso dito pelo roteiro de Williamson enquanto os personagens usam constantemente seus celulares e IPhones pra mediar a tensão. Essa é a coisa mais inovadora no quarto filme, em termos narrativos. Se antes a presença de Ghostface demorava mais a se espalhar, aqui todos sabem de tudo na hora, com os eletrônicos sempre em mãos. O ápice dessa atualização é o que o maníaco faz pra mostrar seus assassinatos: câmeras, que levam direto pra internet. A atualização dos diálogos já era esperada, mas ao adotar elementos novos á estrutura antiga, Pânico 4 até soa inovador perto dos remakes da Platinum Dunes (Sexta-Feira 13, Hora do Pesadelo). Os personagens fanáticos por cinema determinam que os assassinatos são com "novas regras". Ainda que equivocado, afirmar isso acaba não sendo tão errado assim, ao vermos que o filme não acaba na festa e sim após ela. A indispensável reviravolta final, mania de tantos filmes atuais (não só de terror), aparece aqui também, o que prova novamente que Williamson e Craven não perderam a mão. Nem no terror, nem na sátira.


Enquanto Williamson cria passagens hilárias (a morte de um dos policiais é impagável) e estrutura seu filme de forma bem coesa, Wes Craven prova que conhece como ninguém a arte de assustar uma pessoa, ainda que não filme com o vigor do filme de 96. Em algumas cenas, é visível o que Craven "esqueceu" com o tempo. A insistência em dirigir as cenas de terror com a câmera parada, ainda que de forma velada, representa a atual falta de tato de Craven. A angústia causada pelo diretor ao seguir os personagens com uma câmera que entortava freqüentemente, dava uma sensação de terror que nunca é igualada em Pânico 4. Claro que estamos falando de uma direção excelente que privilegia cada passagem pra criar um clima de suspense sem jogar na cara, mas comparada á direção de tirar o fôlego do Pânico 1, aqui Craven demonstra perder força. A fotografia de Peter Deming, que está na série desde o 2, é mais ensolarada que a sombria fotografia cinzenta do primeiro filme. O bom é que esse ensolarado se restringe as cenas de interação entre os adolescentes, o que não torna incômoda a mudança leve para uma palheta mais escura nas cenas noturnas de morte. Craven usa das sombras pra ocultar algumas coisas e ainda recria a excelente passagem do "namorado preso na cadeira" no meio da história, mas não usa mais a trilha de Marco Beltrami, meio apagado aqui, pra criar a tensão que esta causava no primeiro.


Terminando inferior ao primeiro apenas por diminuir consideravelmente o ritmo em seu segundo ato e por erros como o de revelar a motivação do assassino, Pânico 4 termina muito bem e coloca novamente a franquia nos eixos, pra que torçamos por uma continuação. Ainda que Emma Roberts definitivamente não saiba atuar fugindo de sua personagem padrão, o resultado envolvendo-a é legal e o clímax, muito parecido com o do primeiro, sai um pouco prejudicado apenas pela artificialidade da atuação da mesma. E explicando o que apontei anteriormente, mesmo que tenha dado razões para o assassino ser assim (o que, ironicamente, vai de encontro ao que foi dito no primeiro filme), o filme honra muito bem o legado de Ghostface. Um dos mais divertidos filmes de terror recentes.


O que Pânico 4 fez foi o que Sidney Prescott atribuiu, numa passagem que gera boas risadas, como primeira regra de um remake: "Don't fuck the original". Mais coerente, impossível.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

Another Year
(Another Year, 2010)
Drama/Comédia - 129 min.

Direção: Mike Leigh
Roteiro: Mike Leigh

Com: Jim Broadbent, Lesley Manville, Ruth Sheen, Martin Savage, Peter Wight e David Bradley



Mike Leigh continua afiado na criação de diálogos inteligentes e na confecção de personagens absurdamente humanos e dotados de uma série quase infinita de particularidades ou pequenas falhas de caráter que, somente dão mais credibilidade a seus filmes. Em Another Year, ele acompanha um ano na vida do casal Tom e Gerri (não se acanhem a rir sobre a coincidência do nome do casal e do nome do desenho, pois o próprio filme faz graça disso), suas desventuras com a amiga de anos Mary, as visitas de seu filho Carl, a presença do amigo Ken e até mesmo um enterro na família.


Leigh arruma sua trama para fazer sentido de acordo com as estações do ano. O filme é dividido dessa forma e em quatro atos os personagens vão se trombando, se entendendo, se complicando, se amando e se rejeitando. Não existe uma real jornada, ou curva dramática do casal, mas sim de seus coadjuvantes e em especial de Mary, que é a "protagonista" de todas as ações.


Quando encontramos a personagem de Lesley Manville na Primavera (o primeiro ato) ela aparente ser aquela amiga estranha, meio exótica, que dispara uma palavra por segundo, mal tendo tempo para refletir sobre o que sai de sua boca. Com o passar do tempo (e do filme) a nossa impressão vai mudando, em especial por suas atitudes para com um dos personagens.



A interpretação da atriz apesar de exigir alguns óbvios exageros é verossímil e mesmo enxergando Mary, como uma solteirona de meia idade, quase derrotada pela vida e em busca de uma motivação emocional que jamais a acalentará, em nenhum momento ela não parece ser real. Mary é um amalgama de uma série de pessoas que eu, por exemplo, conheço e que o leitor facilmente já deve ter conhecido.


Esse é o grande segredo de Leigh. Seus personagens são de carne e osso, e o espectador consegue se ver em alguns deles, ou mesmo associa-os a amigos, conhecidos, parentes, amantes e inimigos.


Another Year é mais um desses exemplos, onde o diretor e roteirista entrega a seus atores a responsabilidade de criarem da magia, apesar de não furtar-se a apresentar um inteligente trabalho fotográfico simbolizando com realismo a passagem de cada uma das estações. Apesar do clichê na última das estações (inverno) que geralmente é observado e analisado como um momento de morte ou encerramento de ciclo, Leigh não escorrega visualmente.



O problema de Another Year é que o espectador não sente que está vendo "alguma coisa acontecer". Ao optar por acompanhar a história absolutamente comum da família Tom & Gerry, Leigh age como um voyeur e deixa o espectador fazer as conclusões sobre o filme.


Seria Imelda Staunton (que faz uma ponta de luxo no início do filme) de alguma forma relacionada aquela história subseqüente? De onde vem à fixação de Mary por um determinado personagem? É somente uma obsessão ou algo de fato aconteceu? E Carl, o filho de Tom e Gerry, é apenas um camarada tímido ou esconde alguma coisa? E Tom e Gerry, não teriam problemas? Ou escondem seus medos e incertezas dentro de suas almas (poético, não?)


A questão é que Leigh não fornece pistas nem amarra sua trama. Seus atores, todos excelentes, apresentam trabalhos inspirados, mas que pouco esclarecem as dúvidas do espectador. Além de Lesley Manville, Ruth Sheen interpreta com os olhos e o quase sempre fantástico Jim Broadbent parece conter todas as suas emoções para si e dizer apenas aquilo que precisa ser dito.



Esse não é o melhor dos textos ou dos filmes de Leigh. Pessoalmente prefiro Vera Drake e Segredos e Mentiras, mas é de longe superior ao sem graça Simplesmente Feliz, esse sim insensado exageradamente pela crítica. Seu texto continua interessante e seu olhar sobre as relações humanas, mesmo que nesse caso em especial sem essencialmente ter uma história tradicional a ser contada, continua diferenciado. E seus diálogos esses estão sempre primorosos.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Sobrenatural
(Insidious, 2010)
Suspense - 103 min.

Direção: James Wan
Roteiro: Leigh Whannel

Com: Patrick Wilson, Rose Byrne, Lin Shaye, Leigh Whannel, Angus Sampson e Barbra Hershey



Apesar de não inventar a roda, o suspense dirigido por James Wan não faz feio em suas intenções: prega bons sustos no espectador e ainda consegue manter-nos fixos na resolução de sua história, infelizmente seu grande e fatal erro.


Sobrenatural acompanha a família Lambert que acaba de se mudar para uma antiga casa. Quando um dos filhos do casal - Dalton - subitamente entra em um estado de coma profundo, sem nenhuma explicação médica, Renai (a mãe) começa a suspeitar que sua casa talvez seja habitada por espíritos malignos.


James Wan é o escritor e diretor do único dos Jogos Mortais que realmente é interessante: o original. Em Sobrenatural ele não deixa de lado esse background e em alguns momentos usa dos mesmos enquadramentos e de sua obsessão perturbadora por palhaços para nos pregar sustos. Outra característica do filme é que seu diretor usa de filtros de alto contraste para apresentar as cenas "assombradas" e filtros naturalistas nas seqüências do cotidiano da família o que causa um impacto imediato e faz o público antecipar as cenas - se preparando talvez - para a carga de medo que receberá a seguir.



Apesar de aparentemente enquadrar-se no subgênero "casa assombrada", Sobrenatural é muito mais do que somente isso. Trata de outros assuntos do "além" com alguma eficiência e conseguindo provocar alguns bons sustos na audiência. Claro que muitos destes sustos não são méritos apenas de Wan, que sabe bem o que fazer com sua câmera para assustar o espectador, mas do design de som e da trilha sonora por vezes alta demais propositalmente.


Os atores em filmes assim raramente tem o que proporcionar em termos de curvas dramáticas densas ou coisa do tipo. Sobrenatural não inventa a roda e faz de seus protagonistas (a bela Rose Byrne como a mãe desesperada Renai e o taciturno Patrick Wilson como o pai Josh) reagirem as condições ao seu redor.


Wan acerta a mão também ao provocar uma série de sustos seqüenciais mantendo o filme e o público em estado de tensão constante, mas erra ao inserir dois coadjuvantes que deveriam funcionar como alívio cômico e que não conseguem mais do que risadas amarelas da audiência (um deles o roteirista do filme). Em compensação acerta em cheio na caracterização dos espíritos que - novamente - não são originais, mas que funcionam muito bem. O meu favorito é a família de espíritos "primos do Coringa" sempre sorrindo de forma macabra.



O filme ainda tem duas coadjuvantes de luxo: Lin Shaye, vivendo a médium Elise Rainer e a redescoberta Barbara Hershey como a mãe de Josh que vem a ter um papel importante no decorrer da história.


Mas o grande problema do filme e que o faz perder pontos em sua avaliação final, apesar de comum em produções do gênero, é seu final que é óbvio demais, tendo sido repetido em outras produções do gênero. Um pouco mais de ousadia por aqui não faria mal, embora faça parte da cartilha do diretor não encerrar seus filmes com, digamos, os louros da vitória.


Eficiente no que é sua obrigação, porém pouco inspirado em sua conclusão, Sobrenatural é um trabalho interessante de Wan, que se afirma como o grande diretor americano da nova geração quando o assunto é assustar sua audiência.

quarta-feira, 20 de abril de 2011


Anonymous


O suspense histórico de Rolland Emmerich é uma grande incógnita. O diretor conhecido por seus filmes-desastre migra pra um gênero complicado como o thriller/drama histórico. Porém, Emmerich não está envolvido no roteiro, que é escrito pelo bom John Orloff. Recriações históricas espetaculares e uma direção grandiosa(atente como o trailer se parece um épico em alguns momentos) e surpreendentemente impressionante tornam o filme um diferente exemplo no circuito. A desconfiança sempre se recai sobre Emmerich, mas será difícil errar com um roteiro alheio e com um elenco que tem Rhys Ifans e Vanessa Redgrave. Desde que honre Shakespeare, mesmo apresentando uma teoria um tanto inusitada, já está ótimo.