sexta-feira, 31 de maio de 2013

A Fuga do Planeta Terra

A Fuga do Planeta Terra
(Escape from Planet Earth, 2013)
Comédia/Aventura - 89 min.

Direção: Carl Brunker
Roteiro: Bob Barlen e Carl Brunker

com as vozes de: Rob Corddry, Brendan Fraser, Sarah Jessica Parker, William Shatner, Jessica Alba, Sofia Vergara, Jonathan Morgan Heit, Ricky Gervais, Jane Lynch, Craig Robinson, Steve Zahn 

Sem muito alarde chega às telas brasileiras, Fuga do Planeta Terra, animação distribuída pelos Weinstein, que conta com um elenco de vozes estelar (na versão em inglês) e uma trama bastante desgastada, mas que ainda guarda algum charme. Na historia acompanhamos os irmãos Gary e Scorch dois alienígenas que trabalham em uma organização que explora o universo (a NASA local). Um é o nerd que comanda as incursões espaciais e o outro, o galã cheio de músculos. Claro, que ambos não se dão bem e o clichê do sujeito forte e sem grande inteligência e o fraco fisicamente, mas muito inteligente é explorado.

A trama ganha algum corpo quando a organização recebe um pedido de socorro de uma misterioso e perigoso planeta, chamado Planeta Sombrio. Para a nossa surpresa, o tal planeta nada mais é do que a Terra, e segundo a imagem dos alienígenas um local violento, ilógico e que cultua Simon Cowell (o famoso jurado do American Idol e hoje do X-Factor). Aflito - como é de sua natureza - com os perigos da missão, Gary tenta de tudo para impedi-la, mas seu irmão mais forte e menos inteligente já havia planejado tudo para realizá-la. Os dois brigam e Gary abandona o irmão, que parte para o desconhecido planeta azul, onde acaba sendo capturado e levado para a famigerada Area 51 onde encontra toda uma fauna de outros alienígenas. Gary, sentindo-se culpado parte para o resgate e acaba descobrindo uma conspiração que atinge ambos os planetas.

A história é bem "família", onde valores como manter-se junto na adversidades e o amor fraternal são a base da historia. Por outro lado, o filme não esquece de encaixar pequenos momentos que apenas os adultos - ou cinéfilos - vão entender. O já citado vídeo de apresentação da Terra é impagável, retratando uma "involução" do planeta, que deixou de ser habitado por criaturas belas e pacatas para ser povoado por seres que gritam muito e se dividem em coisas chamadas países. Outra sacada criativa foi nomear os trabalhadores da Area 51 com nomes de cineastas e que são chamados aos pares, como pro exemplo: George e Lucas ou Christopher e Nolan.



Mas a trama em si é derivativa demais. Planeta 51, de alguns anos atrás, brincou com a mesma premissa de maneira invertida. Aqui os muitos e coloridos personagens secundários se não atrapalham, pouco tem a acrescentar a história. E os protagonistas são bastante óbvios e quem acaba se destacando é o vilão com sua patética peruca de Elvis que é usada como "arma de sedução intergaláctica". Porém, estamos no campo das comédia absurdas onde a piada do sujeito pisando numa vassoura/esfregão e vendo o cabo atingir sem dó sua cara é repetida com alguma insistência. O mesmo vale para piadas de gases ou ronco, que deixam o humor - que parecia mais sutil - mais rasteiro. Nada que chegue a um Se Beber Não Case (pra ficar num exemplo de um filme que estreia junto a esta animação), mas que também não consegue de fato divertir.

As muitas referências à condição de nerd contra o esportista parecem bastante datadas. Em uma sociedade em que ser nerd é cada vez mais cool, não consigo entender como as crianças (claramente o alvo dessa produção) vão conseguir captar o "drama" do protagonista. Por outro lado, os mais velhos vão olhar pra essa condição com a percepção de que já viram esse tipo de discussão muito melhor explorada em veículos muito mais competentes.

Fuga do Planeta Terra é uma animação razoável em termos técnicos e que em um mercado cada vez mais acirrado perde pontos ao também apostar em uma história nada criativa e mesmo contando com um elenco de estrelas como dubladores (e que o brasileiro certamente não conseguirá ouvir, deixando a ele a opção de esperar o lançamento em home vídeo) é apenas mediano.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Faroeste Caboclo

Faroeste Caboclo
(Faroeste Caboclo, 2013)
Drama - 100 min.

Direção: René Sampaio
Roteiro: Victor Atherino, Marcos Bernstein e José de Carvalho

com: Fabrício Boliveira, Isis Valverde, Felipe Abib, Antonio Calloni, César Troncoso, Marcos Paulo

Faroeste Caboclo é um filme de gênero, pelo menos em tese. Um policial, mas que bebe no western, tem forte acento dramático e é movido por um romance e tudo isso baseado em apenas uma canção (longa, é verdade). Esse deve ter sido o maior desafio de Victor Atherino, Marcos Bernstein, José de Carvalho e René Sampaio, respectivamente roteiristas e diretor do filme. Como adaptar de forma clara uma canção? Manter a historia contada na letra é o mais óbvio, mas de que forma? Seria a literalidade a melhor saída? Ou um pouco de lirismo cairia bem? Talvez acrescentar alguma coisinha aqui e ali para dar maior fluência à trama? E falando em fluência: a melodia da canção funcionaria como base para o ritmo do filme?

Todas essas questões foram sendo respondidas pelo filme, que se não é especial e de exceção, ao menos é decente. A adaptação não é nada literal, mas pega os elementos mais importantes da letra para construir a espinha do roteiro. Continuamos a acompanhar a historia de João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira), que depois de eventos traumáticos em sua infância e a prisão quando jovem, sai da cadeia e parte para Brasília, onde conhece Maria Lucia (Isis Valverde), se envolve com os negócios do primo Pablo (César Trancoso) e encontra seu nemesis na figura do traficante Jeremias (Felipe Abib).

René Sampaio vai obviamente além e insere flashbacks do passado de João, dando uma cara a sua luta e seus traumas e insere a figura do delegado (Antonio Calloni), mostra um pouco a família de Maria Lucia (na figura do recém falecido Marcos Paulo, em interpretação visivelmente debilitada), de seu mundinho e amigos.



No fundo, Faroeste Caboclo é uma historia de vingança. De João contra o mundo. O mundo que não lhe deu oportunidade, que ceifou a vida de seu pai, que não lhe deu estudo e que quando este tenta seguir pelo caminho honesto, lhe passa a perna. É uma declaração do personagem sobre uma vida bandida que lhe é dada e que ele não tem forças para enfrentar. Boliveira tem ótimos momentos, tanto quando precisa demonstrar fúria (especialmente quando parte em busca de Jeremias e seus capangas), quando nos momentos de silêncio de precedem as conversas com Maria Lúcia. Aliás, existe uma química muito boa entre Boliveira e Isis Valverde e naturalidade muito bem vinda nos diálogos do casal. Parabéns a ambos, especialmente Isis, que foge completamente de uma eventual caricatura ou do melodrama e mesmo diante de situações que até pedem certo exagero se mantém centrada, como parece ser sua personagem desde sua primeira aparição. Uma garota em busca de alguma coisa que a faça sair do lugar comum e que encontra em João uma paixão avassaladora e sem nenhuma lógica.

O roteiro acerta ao não manter-se preso a um só gênero e mesmo assim não se confundir. Mesmo com o romance movendo a historia e João, sua vingança não perde força e o confronto com aqueles que o machucaram não é amenizado. Por outro lado, a figura do vilão central da trama Jeremias (Felipe Abib) não é ameaçadora, cabendo ao delegado (Antonio Calloni) a função de servir por muito tempo como antagonista, o que também não consegue fazer por muito tempo.

Outro problema, e esse é absolutamente inevitável, é que qualquer um que já tenha ouvido a canção, ou se presta a ouvi-la antes de ver o filme, saberá como ela termina e por consequência o filme. Faroeste, apesar de não ser uma biografia, sofre do mesmo mal de que a transposição da vida de uma pessoa ou mesmo adaptações de livros/quadrinhos muito populares sofrem. Portanto, o filme precisa apresentar novidades na trama ou realizá-la com esmero absoluto, já que o fator surpresa não existe. Faroeste é reverente ao material adaptado, mas não bitolado, alterando momentos da canção e inserindo outras questões, para dar mais corpo a um filme que é completamente diferente de uma musica.



Faroeste Caboclo não é excelente, mas funciona no que se propõe. Ser um thriller com diversos "galhos", que transita pela denúncia (leve), romance e trama policial. Com acertos na escolha dos protagonistas, mas problemas com o antagonista que verdadeiramente não assusta e um ato final burocrático, é apenas razoável.


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Se Beber, Não Case! Parte 3

Se Beber, Não Case! Parte 3
(The Hangover Part III, 2013)
Comédia - 100 min.

Direção: Todd Phillips
Roteiro: Todd Phillips e Craig Mazin

com: Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha, Ken Jeong, John Goodman, Heather Graham

Sempre que escrevo (ou falo) sobre um filme, tento me colocar na seguinte situação: o que o sujeito que fez esse filme quis com isso ou aquilo. Quais suas intenções? O que ele propôs? Pra mim, Todd Phillips quis acabar com a própria carreira em Se Beber, Não Case 3. Pois só isso, me faz entender como uma serie que começou de forma tão bem vai terminar de forma tão medonha. Desde já, o fim da trilogia do Wolfpack é um dos piores filmes de 2013, com muitas sobras.

O que fez do primeiro filme da serie acima da média foi sua falta de pudor e de noção quanto a forma de lidar com o humor. Em um mundo tão politicamente correto, onde tudo vira motivo de drama e processo, um filme tão incorreto e abertamente sem nenhuma preocupação em agradar a todos merece meu respeito.  O segundo filme da serie, limitou-se a repetir as piadas do filme original em um cenário diferente, o que o transformou em uma decepção total. E esse terceiro consegue afundar ainda mais, já que ignora a aura de anarquia e transforma a serie em uma comédia genérica com personagens exagerados, situações sem graça e foco nos dois piores personagens de toda a franquia: Alan e Sr. Chow, curiosamente - ou não - os dois menos próximos do público e que numa comédia que se consagrou por ser ácida em relação aos absurdos cometidos por caras "normais" em uma situação traumática, sempre funcionaram muito melhor como coadjuvantes do que como protagonistas.

No terceiro filme da serie, Alan é o protagonista. Nesse filme não existem casamentos, despedidas de solteiro ou algo do tipo. O pai de Alan morre de um ataque cardíaco causado pelo choque diante de mais uma completa insanidade (sem graça e que envolve uma girafa) do filho. No enterro, seus amigos decidem colocar o sujeito numa clínica para que sua "falta de noção" seja tratada, já que o gordinho babaca não toma mais seus remédios e vive num mundo paralelo, onde seu humor insuportável dá o tom. Quando os sujeitos estão com Alan na estrada rumo à clínica são abordados por um gangster (John Goodman) que sequestra Doug - de novo - e ordena que os três amigos que restam que encontrem e tragam Chow, que havia roubado seu dinheiro. A partir daí o trio precisa encontrar o chinês e trocá-lo por seu amigo.



Sai a comédia do "o que foi que fizemos" e entra uma óbvia corrida contra o tempo para solucionar o problema apresentado. A anarquia sem muita noção dos dois primeiros filmes, é substituída por passagens de gosto muito duvidoso super expondo Alan e Chow, e maneirando em todos os absurdos que fizeram a fama da serie.

O mote do filme é fazer Alan crescer e virar um homem responsável, porém o filme se sabota já que além de não fazer nenhum força para tentar defender essa teoria que o restante do WolfPack pretende forçar, ainda introduz uma personagem detestável que funciona como par romântico de Alan. Em vez de abraçar a ideia, do "esse sujeito tem jeito e seu comportamento insuportável pode ter fim", o filme covardemente prefere optar pela saída mais "engraçada": vamos lhe dar um "clone fêmea", igualmente desbocada, com humor grosseiro e claro, obesa, já que - como disse no igualmente péssimo Uma Ladra sem Limites - gordos só podem se relacionar com outros gordos. Ainda mais no campo da comédia, onde o gordo é mais um alvo de piadas.

Deixados em segundo plano, os sempre mais engraçados e críveis Stu e Phil, apenas servem de escada para os momentos de "show" de Alan ou de Chow e que também trazem as voltas do Doug Negro e da stripper Jade (Heather Graham) em pontas que nada acrescentam ao filme. Outra preocupação é de relacionar os eventos dos filmes anteriores, como se tudo tivesse sido pensado desde sempre para esse formato de trilogia, o que além de ser uma mentira é um cuidado e um exagero muito grande para uma franquia de humor juvenil que tem como grande mérito não se levar a sério. Contando com John Goodman canastrão e Bradley Cooper com vergonha, cabe ao sempre divertido Ed Helms o desafio de tentar encontrar alguma graça na trama (o que não consegue).



Mais o pior de tudo é notar que a serie parece ter "amadurecido". Saem o humor de banheiro com referências a bebedeiras, bobagens mil e questões sexuais e entra a preocupação com a amizade, aceitar-se como se é e crescer. Tudo muito bacana se o roteiro não fosse esquizofrênico e transita-se sem nenhuma noção por momentos de piadas bobas (Mr. Chow cantando ou andando de pára-quedas e todas as participações de Melissa McCarthy, péssima), com comédia de situação (os "heróis" tentando invadir uma residência) e essa ideia de fazer Alan amadurecer. E pior: sem encontrar graça em nenhum momento.

Se Beber Não Case 3 é uma tragédia. Daquelas comédias sem nenhuma graça, com personagens que nunca funcionam, roteiro cheio de problemas de ritmo e que não sabe direito o que quer contar (a ultima "cavalgada dos lobos" ou o amadurecimento de um deles?). Erra feio ao apostar nos personagens errados como protagonistas e pega o preço do erro: entrega um dos piores filmes do ano e de longe a comédia mais sem graça dos últimos anos.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A Datilógrafa

A Datilógrafa
(Populaire, 2012)
Comédia/Romance - 111 min.

Direção: Régis Roinsard
Roteiro: Régis Roinsard, Daniel Presley e Romain Compingt

com: Romain Duris, Déborah François, Bérenice Bejo, Shaun Benson

Simpática comédia francesa, A Datilógrafa esteve no festival Varilux de cinema francês e chega ao circuito nacional, dando a chance de um público maior conseguir assistir a esse singelo trabalho do diretor Régis Roinsard que não tem medo de fazer uma comédia romântica com vários dos elementos tradicionais em tramas do gênero. E fazer desses clichês que nos irritam em diversas produções diferentes, elementos de força no filme.

A trama fala sobre a garota do interior Rose Pamphyle, que no final dos anos cinquenta, quando o papel da mulher na sociedade era o de mãe e dona de casa, decide sair da pequena cidade onde nasceu e enfrentar o mundo. Um dos poucos empregos que uma garota poderia conseguir é o de secretária e por isso Rose entra na disputa pelo cargo em uma firma de arquitetura. Sua única qualidade é a de datilografar, o que faz com velocidade impressionante, o que chama a atenção de seu chefe (Louis), um ex-atleta que desistiu dessa vida quando participou da segunda guerra mundial, mas que mantém a chama da competitividade acesa, especialmente contra Bob, seu amigo americano que se casou com sua paixão do passado, a igualmente bela Marie. 

Nessa tentativa de competir e de vencer seu amigo (que aposta contra o sucesso da garota de forma irônica) - mesma que seja usando outras mãos - Louis inscreve a jovem garota em um concurso local de digitação em velocidade (sim, amigos é isso mesmo que vocês leram) e a partir daí o romance toma conta da produção, usando os velhos artifícios do homem que não tem coragem de assumir uma posição e da mulher apaixonada e que se coloca nas mãos do sujeito para tê-lo em sua vida. 



Elementos básicos em uma dezena de comédias românticas e que aqui funcionam pela direção de Roinsard, que consegue manter sob controle a taxa de glicose da trama, e pela química entre os protagonistas. Se Louis (Romain Duris) esbarra na caricatura, exagerando em algumas caretas e num excesso de sisudez que beira a antipatia em certos momentos, Rose (Déborah Françoise) é radiante. Nunca tinha visto a jovem atriz, e ela me pareceu uma mistura de Natalie Portman com Mary Elizabeth Winstead, atrizes que usam dos seus grandes olhos para conquistar a afeição (e paixão) do espectador. É singela e delicada, mas não cai no clichê da mocinha burra e indefesa.

As tais competições de datilografia são os pontos altos do filme. Muito bem montadas e usando o som para construir uma cama sonora que dispensa o auxílio de música propriamente dita, Roinsard consegue criar tensão em um grupo de pessoas batendo a máquina, da mesma forma que acompanharíamos uma atividade esportiva. O filme ainda explora a questão do culto a fama, mesmo quando essa venha por motivos aparentemente banais (como bater a máquina em alta velocidade), e de forma discreta faz sua "denúncia" à fábrica de ídolos do esporte. 


Mas esse não é o foco da história de fato. A produção francesa é uma historia de amor bastante previsível e que transita pelos clichês com sucesso e bastante charme. A excelente reconstrução de época e a direção de arte elegante e que abusa da mistura de cores (especialmente nas tais competições) ajudam a deixar o filme mais leve e até ingênuo, beirando um conto de fadas moderno. Simples, sem inventar a roda e abusando de clichês, mas com atores decididos e com ótima química, A Datilógrafa é um raro caso de comédia romântica que consegue sobreviver mesmo com seus clichês. 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Velozes e Furiosos 6


Velozes e Furiosos 6
(Fast & Furious 6, 2013)
Ação/Thriller - 130 min.

Direção: Justin Lin
Roteiro: Chris Morgan

com: Vin Diesel, Dwayne Johnson, Paul Walker, Michelle Rodriguez, Luke Evans, Ludacris, Tyrese Gibson, Gina Carano, Sung Kang, Gal Gadot, Elza Pataky, Jordana Brewster

A abertura do filme já entrega: Velozes e Furiosos 6 podia ser uma serie de televisão. E uma boa serie de televisão, que fique claro, nos moldes do saudoso Esquadrão Classe A, onde um grupo de militares foras da lei partia para as missões mais perigosas e que ninguém mais aceitava. Muito parecido com a trama dessa sexta historia da franquia que começa com o resultado de um assalto que teve como alvo um aparato militar que pode ser usado na construção de uma espécie de bomba que inutiliza os aparelhos eletrônicos.

Na captura desse bando está o agente Hobbs (Dwayne Johnson) que recebe a companhia da belíssima Riley (Gina Carano) e percebe que pelo modus operandi da equipe de assaltantes, apenas outro grupo de bandidos poderá encontrá-los. Ele recorre a Dominic Toretto (Vin Diesel) e toda sua equipe que está de volta quase que completa: seu cunhado Brian (Paul Walker), o especialista em tecnologia Tej (Ludacris), assim como Roman (Tyrese Gibson), e o casal Han (Sung Kang) e Gisele (Gal Gadot), que se unem aos policiais para enfrentar a gangue. E como eles são convencidos a isso? Perdão total pelos crimes cometidos até então e a chance de re-encontrar Letty (Michelle Rodriguez) que parecia ter morrido no quarto filme da franquia (e como a cena extra do quinto filme já nos dizia está viva). Movido pelo amor ainda latente pela garota, Dom e os demais aceitam o desafio.

O inimigo da vez é o ardiloso e inteligente Shaw (Luke Evans), que também tem uma equipe formada por figuras exóticas, que funcionam como nemesis da equipe de Dom. Além disso, o vilão tem treinamento militar e acesso a  uma infinidade de armas de grosso calibre, fazendo do desafio ainda maior. E para piorar, ainda usa uma mistura de carro de corrida com o Batmóvel dos últimos filmes do Batman, extremamente rápido e aerodinâmico e que usa sua carenagem esguia como rampa para impulsionar e consequentemente destruir outros carros (sério?).



Vale um registro importante: o filme trás de volta uma serie de personagens que já fizeram parte da serie em diversos outros momentos da mesma. Portanto, é interessante para o espectador antes de assistir ao sexto filme da franquia, que assista aos anteriores, em especial o primeiro (que dá as bases do "mundo" de Velozes e Furiosos), o terceiro (que, eu sei, é fraquinho, mas é importante no desfecho da trama) e o último (já que posiciona os personagens de Diesel e Walker e apresenta Dwayne Johnson). Mas, mesmo sem assistir aos anteriores, a diversão - fator fundamental do filme - não fica prejudicada,  já que a trama é bem simples - até simplória - e o foco são mesmo as sequências de ação.

Sequências essas que são excelentes, e duas delas estão certamente no topo das mais impressionantes do ano. A primeira e mais forte, tem de tudo que o bom cinema de ação tenta atingir. É tensa, visualmente impactante, acerta ao criar pequenos clímax durante os acontecimentos e termina de forma absurda em termos visuais. Uma daquelas sequências em que a física é completamente ignorada em prol da fantasia e de uma ótima cena. É definitivamente o ponto alto do filme e das sequências de ação do ano - até aqui - de longe, a melhor.

Velozes 6, só não é mais divertido que o quinto filme pois sua trama é simplória. O filme tenta encontrar uma solução para o ressurgimento de Michelle Rodriguez que é o mais óbvio possível, assim como tenta criar um pequeno drama sobre os sentimentos de Dom, ou dar espaço para o casalzinho formado por Han e Gisele. Entendo que é necessário que exista alguma coisa que segure a história além das muitas sequências de ação, mas ao tentar ser "profundo" o filme fracassa. Isso não chega a derrubar o filme, mas é incomodo acompanhar uma serie de atores medianos tentando extrair emoção de um roteiro que não se acerta nisso.



Vin Diesel continua carismático, Dwayne Johnson cada vez mais fisicamente inumano e Paul Walker não compromete. O vilão de Luke Evans (um ator que não acho grande coisa) funciona e Michelle Rodriguez é um bem vindo retorno a serie. E Gina Carano, além de linda, é tão fisicamente impressionante quanto Dwayne, arriscando até um Roadhouse Kick (movimento imortalizado por Chuck Norris) em versão juvenil e ainda luta de forma competente quando é exigida. Ela já merece sua franquia de ação.

As lutas que nunca foram o foco do filme, aqui ganham impacto com direito a combates dentro de metrôs, aviões e tiroteios constantes. Tudo bem realizado, o que mostra que Justin Lin sabe de fato dirigir muito bem esse tipo de sequência. Em compensação, ele tenta criar uma dinâmica desnecessária em sequências de conversa, lembrando os excessos de Michael Bay e sua mania de girar o eixo da câmera o tempo todo.

E os carros? São muitos e praticamente de todo o tipo. Bastou ter quatro rodas (ou mais) que a produção deu um jeito de incorporar a um trecho da história. Dos tipos mais básicos e modernos, até os "tunados", os construídos, os "muscle cars" americanos dos anos setenta e mesmo um tanque de guerra (porque não?) fazem parte do menu do filme.



Velozes e Furiosos 6 não chega a ser o melhor filme da franquia (fico com o original e o quinto) mas é bastante divertido com todos aqueles exageros típicos dos bons filmes de ação. Mesmo com uma trama simplória e revelações facilmente adivinhadas, o filme acerta no que se propõe: pouco mais de duas horas de carros, perseguições e testosterona.

(Obs. importante: NÃO saia da sala quando os créditos começarem a rolar. Existe uma EXCELENTE cena ao final do filme)

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Terapia de Risco


Terapia de Risco
(Side Effects, 2012)
Drama/Thriller - 106 min.

Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Scott Z. Burns

com: Rooney Mara, Jude Law, Catherine Zeta-Jones, Channing Tatum

Steven Soderbergh construiu uma carreira que não fora irretocável em função de sua melhor característica: ser prolifico, camaleônico, adaptável a qualquer roteiro. A única similaridade em temática de seus filmes foi a maneira artesanal como explorava os interessantes temas abordados em tela. Na prometida despedida dos longas para o cinema, aqui em Terapia de Risco, o diretor se aventura pelo mesmo olhar protocolar e técnico de Contágio, aproveitando o giro pela indústria farmacêutica para brincar com as expectativas do espectador acerca dos personagens, que se alternam na posição de protagonistas para dar diversos pontos de vista, nem sempre confiáveis, sobre a mesma trama de conspiração.

O filme parte da depressão de Emily (Mara) após a saída de seu marido Martin (Tatum) da prisão. No tratamento, o doutor Jonathan (Law) receita um medicamento antidepressivo experimental, o que acaba por causar efeitos colaterais na mulher, tomando dimensões trágicas a medida do passar do tempo.

De início, a depressão de Emily é retratada com precisão. Diversos efeitos da tristeza patológica são realçados pela montagem elíptica que Soderbergh realiza, criando uma atmosfera que soa como um fluxo de consciência, uma suspensão de tempo na vida dos personagens, como se tudo se movesse de forma contínua, sem controle algum por parte dos habitantes daquele universo. Além disso, o diretor concebe ângulos inusitados para ressaltar a solidão que a depressão causa na personagem de Mara, pontualmente nos cantos do quadro, se aliando aos enquadramentos rígidos já vistos em Contágio para ilustrar o desespero gradativo da mulher. A profundidade de campo reduzida e a iluminação natural, características da câmera-padrão de Soderbergh, a RED One, auxiliam a sensação de pesadelo vívido que Terapia de Risco causa no espectador. A paleta dessaturada, calcada em diversos tons de cinza, parece drenar qualquer sinal de esperança no tempo presente do filme, o que potencializa o drama vivido por Emily.


Esse flerte com o filme-delírio (ritmo de fluxo de consciência, a ótima trilha fantasmagórica de Thomas Newman, o retrato inexpressivo de Mara diante da depressão) só faz a tensão crescer, plantando pistas a todo o momento da possível inconfiabilidade da narração da protagonista Emily, talvez uma vítima dos efeitos colaterais do título original. A gradativa construção de uma realidade distorcida, como no brilhante enquadramento que deforma o rosto de Rooney Mara, só é mais explicitada pela feliz iluminação que Soderbergh filma os flashbacks do casal, o que contrasta com o implacável presente, mediado por luzes fluorescentes, reflexos de uma depressão e nomenclaturas diferentes para remédios sufocantes.

No segundo ato, no entanto, o foco sai de Emily para Jonathan Banks, vivido com a competência habitual de Jude Law. A abordagem mais racional, ainda que mantenha os tons frios que permeiam toda a realidade do filme, cria uma nova dimensão para os acontecimentos. Afetando o trabalho do doutor Jonathan, a situação de Emily começa a ser estudada de fora do fluxo de delírio da narradora anterior. Ao incitar uma nova discussão sobre o teor dos remédios, a pretensão de filme-denúncia e registro protocolar médico de Terapia de Risco se transforma num suspense tipicamente Hitchcockiano, onde as atuações irretocáveis de Law e da, cada vez melhor, Rooney Mara, exalam uma preocupação gradativa que só se resolverá com uma virada no plot.

Sem entrar em muitos detalhes que possam estragar a experiência do filme, vale falar que é possível constatar algumas falhas na construção desse plot twist, que surge intimidador, mas desenvolvendo pouco a relação entre os envolvidos nele. Porém, nessa segunda metade, a paranoia gradativa pairando sobre Emily e Jonathan só aumenta a gravidade da intrincada experiência dos remédios experimentados pela paciente. Ao corretamente se focar na busca pelo destrinchar do quebra-cabeças, sem apelar desnecessariamente para um possível dilema moral de certo personagem, Terapia de Risco é muito bem sucedido na criação de uma atmosfera que oscila entre o delírio e a paranoia para quebrar expectativas que o espectador atento certamente fará. É diferente de um longa como o recente Em Transe, que investe em reviravoltas para complicar um simples exercício de gênero, tentando esconder sua falta de conteúdo. Aqui, o roteirista Scott Z. Burns aposta nas pistas falsas filmadas por Soderbergh para absorver o caráter dúbio do narrador em foco, o que só causa mais desespero. É um bem-vindo filme onde não é previsível o rumo que tomará tanta paranoia.


Mesmo que não conte com um encerramento surpreendente, tendo problemas na coordenação dos flashbacks e dos didáticos minutos finais, Terapia de Risco se mostra competente ao frustrar intencionalmente, criando um poderoso sentimento de desolação no espectador que esperava um delírio facilmente previsível como em um Ilha do Medo, por exemplo. É uma bela despedida para Soderbergh, caso se consuma, e um exercício muito bem executado na tradição dos antigos thrillers. Filmes do estilo costumam omitir informações para contar uma revelação bombástica em seu final; Side Effects se diferencia justamente por oferecer um novo olhar, revelador, sobre o que já havia sido estabelecido.

Terapia de Risco se beneficia por entender que todo bom filme de delírio precisa, anteriormente, ter um bom desenvolvimento e conhecimento de paranoia.


quinta-feira, 16 de maio de 2013

Reino Escondido


Reino Escondido
(Epic, 2013)
Aventura - 102 min.

Direção: Chris Wedge
Roteiro: Tom J. Astle, Matt Ember, James V. Hart, William Joyce e Daniel Shere

com as vozes de: Amanda Seyfried, Jason Sudeikis, Pitbull, Steven Tyler, Beyoncé, Josh Hutcherson, Colin Farrell, Judah Friedlander, Christoph Waltz

Quando eu era pequeno, me lembro que assistir a um desenho animado no cinema era uma coisa rara. Ou você se contentava com reprises dos clássicos da Disney (sou um pouco mais velho que a retomada da Disney no cinema, embora tenha visto quase todos no cinema também) ou chupava o dedo. Havia muitos filmes live-action para jovens e crianças, casos de Goonies e Labirinto, por exemplo. Os tempos são outros, e se hoje os filmes live-action para crianças praticamente desapareceram (substituídos pelos insossos "filmes para toda a família"), as animações povoam as salas de cinema com uma força nunca antes conhecida.

Se a Disney tinha o monopólio dos longas metragens, hoje a Dreamworks, Blue Sky, Paramount e até mesmo produtoras européias e japonesas (Studio Ghibli em especial) conseguem cavar seus lugares nas salas. E o que isso tem a ver com Reino Escondido?

Se fosse nos anos 80, Reino Escondido certamente seria uma produção em live-action, nos moldes das produções do estúdio Henson (que criou os Muppets e também de Dark Crystal e o já citado Labirinto), já que a trama tem um direcionamento ao mundo da fantasia que combina demais com esse tipo de produção. No entanto, a produção chega como animação, adaptada do livro de William Joyce (que também é um dos cinco roteiristas do filme), com uma qualidade visual notável, uma construção de cenários impecável, personagens bem realizados e atenção as texturas dos diferentes ambientes naturais (já que o filme se passa quase que inteiramente em uma floresta) que tem como grande destaque técnico a construção de um cervo que em determinado momento da trama surge de forma assustadoramente convincente na tela. De fato, é uma das animações mais bem realizadas em termos técnicos que o cinema já apresentou.



Por outro lado, a trama de Reino Escondido é batida e já foi apresentada ao público de maneira mais eficiente e divertida anteriormente. Misturando os eternos conflitos entre pais e filhos com a ideia de alguém que é encolhido e enxerga o mundo com outros olhos, a historia não é diferente de nada do que o público já viu, com a diferença de não possuir personagens interessantes que conseguem transitar por esse tema reciclado.

O drama entre pai e filha que até parece promissor, já que a protagonista Mary Catherine (ou Maria Catarina na correta dublagem nacional) precisa lidar com a perda da mãe e aceitar o exotismo do pai mas perde força quando a relação de ambos fica em segundo plano diante da historia da batalha entre os povos da floresta contra a podridão, um tema já tão explorado que somente com muita competência, diálogos divertidos ou personagens cativantes pode escapar do lugar comum. Não é o caso, já que embora visualmente a animação impressione, os personagens são estereótipos e óbvios até o último pixel.

Se a protagonista é a tipica garota moderna, meio engraçada que "está em busca de um lugar no mundo", Nod que surge como par romântico acidental é o típico herói em formação, que relega seu talento em busca de aventuras. Ronin é o líder, reto, sem espaço para o amor, é todo disciplina como seu figurino - inspirado em samurais (não por acaso seu nome também é uma óbvia referência a cultura oriental, assim como seu visual com os olhos semi-cerrados) e a rainha Tara é tão boa e doce que chega a dar excesso de glicose no espectador. E é claro que não faltam alívios cômicos nas figuras da lesma e do caracol Mub e Grub, que de engraçado tem muito pouco, assim como o guru Nim que até tem algumas boas sacadas - como registrar a historia em "papiros" feitos de seda produzido pelos bichos da seda - e uma canção (já que é dublado, na versão original, por Steven Tyler).



Reino Escondido é razoável. Não é um grande trabalho, nem mesmo dentre as animações lançadas esse ano (Os Croods continua como a mais interessante pra mim, até aqui), mas é um belíssimo trabalho visual. Se não parecesse tanto com tantos outros filmes mais empolgantes seria merecedor de um conceito maior.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

O Massacre da Serra Elétrica 3D


O Massacre da Serra Elétrica 3D - A Lenda Continua
(Texas Chainsaw 3D, 2013)
Terror - 92 min.

Direção: John Luessenhop
Roteiro: Adam Marcus, Debra Sullivan e Kirsten Elms

com: Alexandra Daddario, Dan Yeager, Trey Songz, Scott Eastwood

Reboots. Remakes. Re-imaginações. Estão na moda, e por ano três, quatro novos filmes visitam universos já explorados pelo cinema. O caso do Massacre da Serra Elétrica - A Lenda Continua é curioso, já que ele não se apóia no remake de 2003 dirigido por Marcus Nispel, mas no original de Tobe Hooper. O filme começa com um retorno àquela realidade de 1974, quando os canibais da família Sawyer atacaram um grupo de jovens. A trama imagina uma eventual sequência ao chocante final da historia original, quando o inesquecível Leatherface surge brandindo sua moto serra enquanto uma das jovens consegue fugir.

Na trama dessa "continuação", a família decide entregar o mais famoso de seus integrantes, após serem cercados pela polícia. Porém, um grupo de rednecks vingativos os ataca deixando-os todos mortos, exceto por uma garotinha (ainda bebê) que é levada por um casal de atacantes. Anos depois a garota é uma jovem "meio desajustada" (já que ela usa roupas escuras, um dos maiores clichês do cinema americano: para mostrar que alguém é "diferente" coloque-o usando preto) e recebe uma carta dizendo que sua avó havia falecido e lhe deixou uma herança. A garota não sabia sequer que era adotada e parte com seu namorado e um casal de amigos em busca de seu passado, ganhando no caminho a companhia de um caroneiro (outro clichê do gênero).

Descobre-se que a tal herança era uma mansão muito bem cuidada, mas que parece uma daquelas saídas de filmes de terror. Enorme, cheia de quartos, construída de madeira escura o que cria um ambiente ao mesmo tempo acolhedor e assustador (dependendo da fotografia e iluminação utilizada). Como exemplo disso dá pra citar os primeiros momentos da chegada dos garotos a casa, onde as portas vão sendo abertas e apesar da percepção de que estamos diante de um ambiente antiquado, notamos um ambiente caloroso. Em uma sequência posterior - logo após a revelação do paradeiro de nosso serial killer favorito - o grupo retorna a casa e a fotografia é lúgubre, as paredes parecem menores e a sensação de amplo espaço é deixada de lado: aquela casa esconde alguma coisa que vai tentar pegar essa molecada.



Apesar desses acertos nos cenários e na criação de um clima que dá estofo ao retorno de Leatherface, de fato a produção é simplória. Bastante previsível, visualmente até pobre - diante do que o gênero já produziu - mas menos "grosseira" na forma de retratar seus momentos nojentos na tela. Em comparação óbvia com o igualmente recente Evil Dead, Massacre é uma produção mais "leve" embora não faltam alguns desmembramentos aqui e ali. Porém, existe certo pudor em escancarar a violência, o que deixa a cargo das reviravoltas da trama e da caracterização dos personagens o peso de fazer a historia funcionar, o que infelizmente é um problema. Com personagens coadjuvantes bem limitados aos estereótipos do gênero que vão desde a amiga "fácil", o namorado bobalhão, o amigo prestativo e o caroneiro canalha, passando pelos habitantes da cidade, com seu xerife que talvez seja o único sujeito equilibrado do local e os demais "donos" do lugarejo que agem como defensores da lei, tudo já foi apresentado em diversos outros filmes.

A protagonista no entanto, revela-se surpreendentemente interessante, passando de garota perdida, a mulher forte e decidida quando descobre "seu lugar no mundo" e seu envolvimento com Leatherface. Mas, tudo isso diante das limitações que o filme se coloca. É uma trama rasa e óbvia, sobre vingança e o retorno de um personagem icônico do cinema de horror. Porém, não se enxerga como mais do que isso, ou mesmo tenta produzir momentos de impacto emocional onde não existe necessidade. É um slasher com pudores e paramos por aí.

Massacre é uma experiência saudosista para os fãs da mitologia criada por Tobe Hooper, mas como produção do gênero slasher parece um tanto datada, apesar de se elegante na abordagem da violência. Falta um cuidado com os personagens (que funcionam apenas como carne para ser fatiada) e num acúmulo desnecessário deles (o que acontece com o filho do prefeito por exemplo ou com o advogado da protagonista), fazem da produção esticada demais para os seus pouco mais de noventa minutos, o que não é um bom sinal em um gênero que pretende sempre manter-se enxuto.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Uma Ladra sem Limites


Uma Ladra sem Limites
(Identity Thief, 2013)
Comédia - 111 min.

Direção: Seth Gordon
Roteiro: Craig Mazin

com: Melissa McCarthy, Jason Bateman, Eric Stonestreet, Amanda Peet, John Chu, Robert Patrick

"Antes só do que Mal Acompanhado" é uma das comédias mais bem sucedidas (e divertidas) do cinema. Certamente entra numa lista de 30 mais importantes e é sem dúvida a mais referenciada na última década. Em 2010, Downey Jr. e Galifianakis eram dois sujeitos que tinham que atravessar o país mesmo não se aturando, e que no fim criam uma amizade (da mesma forma que Steve Martin e John Candy faziam no filme de John Hughes). Esse ano essa mesma fórmula ganhou o aditivo do crime e substituição de um gordinho por uma gordinha.

No mais, Uma Ladra sem Limites obedece às regras do gênero. Na trama Sandy Patterson (Jason Bateman) é sujeito muito certinho - quase beirando o ridículo - mas é um marido amoroso, bom funcionário e bom pai que se vê envolvido em uma fraude de roubo de identidade. Diana (Melissa MacCarthy) se aproveita da ingenuidade do sujeito e clona sua identidade e com isso cria um cartão de crédito com o nome de Sandy - que tem nome de mulher, o que em teoria deixaria a historia mais "engraçada" - e parte para um festival de abusos, chegando a ser presa.

É claro que o verdadeiro Sandy acaba sofrendo com isso, e mesmo depois de provar sua inocência, tem seu emprego ameaçado (afinal à empresa não quer ter seu nome associado com um tipo de investigação policial que pode levar um ano para ser encerrada - informação que o filme faz questão de apresentar várias vezes ao espectador). Para evitar a demissão parte para um daqueles planos mirabolantes que mesmo completamente absurdos ganha até o aval da policia. O sujeito decide encontrar a fraudadora, com o pretexto de levá-la de volta a sua cidade para que ela confesse seus crimes ao seu chefe, embora de fato, ela estará sendo presa. Entendeu? É muita confusão para uma comédia que não é engraçada, se apóia em clichês e mesmo tentando ser politicamente incorreta é careta.



Desde a saída dá pra notar que a gordinha vai se redimir, porém o filme recheia a trama com momentos bobos e quase ofensivos. McCarthy, durante o filme, acaba arrumando um sujeito que é claro, só pode ser gordo já que gordos só podem se envolver com gordas, afinal, seria muito feio ver uma mulher bonita e um sujeito acima do peso não é? Ou vice versa. Por isso na cena de "intimidade do casal", o que se vê não é nada além do que a visão adolescente retardada que a maioria do público comedor de pipoca deve ter em relação ao sexo: que ele está lá apenas para fazer rir. E pior, não faz, já que as piadas simplesmente não funcionam. Não existe graça em ver dois gordinhos gritando enquanto transam. E isso não é porque é politicamente "incorreto", é porque simplesmente não é engraçado, além de reforçar um clichê bobo. Aliás a própria McCarthy se destacou na TV dentro de um clichê bobo, a péssima serie Mike & Molly, onde - olha só que coisa - Molly se apaixona por um policial gordo e viciado em comida.

Fora isso, os coadjuvantes são fracos e a correria onde nada acaba dando certo para os personagens nunca de fato, tem graça. Já que não basta a personagem de McCarthy ser uma falsária, ela precisa estar sendo perseguida não por um, mas por dois matadores que querem apagar a mulher. Todo esse excesso de "ruído" só tenta desviar a atenção de que de fato, o filme não é bom.

Jason Bateman faz o papel de bobo com alguma competência, mas nunca convence inteiramente como aquele sujeito que de fato está em perigo. Tudo é muito blasé e mesmo Melissa, uma comediante que transita com grande segurança pelos extremos da comédia, sabendo ser politicamente incorreta, brincar com o pastelão e com os textos rápidos e irônicos aqui se vê engessada num road movie que chega a lugar nenhum. Com participações especiais (não dá pra considerá-los como "coadjuvantes") de Eric Stonestreet (o "amante" já citado) e Robert Patrick (um dos patéticos matadores), a historia nunca engrena.


E ainda insiste em momentos dramáticos excessivos: não basta terem roubado a identidade de Bateman, mas sua mulher está esperando o terceiro filho. Não basta McCarthy ser ladra, ela precisa ser humilhada, alvo de chacota e não ter amigos. E o pior é que a atriz até acerta quando precisa ir além do estereotipo, o que mostra que ela pode estar além da função de comediante, basta escolher trabalhos em que não seja sempre a "gordinha estranha e bizarra". Uma daquelas produções que a expressão "um desperdício de talento" cabe muito bem.