quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Whiplash

Whiplash
(Whiplash, 2014)

Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Damien Chazelle

com: Miles Teller, J.K. Simmons

A música não tem regras, nem mesmo um julgamento racional. É muito difícil racionalizar sobre o que faz uma música boa ou ruim, baseando-se apenas em dados estatísticos e afins. Muito do nosso julgamento sobre o que é "boa música" é meramente subjetivo, por isso, quando personagens como os de Miles Teller e o de J.K. Simmons entram em cena fica difícil não se posicionar de uma forma a considerá-los "malucos". Afinal, qual a diferença entre uma batida 100% perfeita e uma 99,9%? Para o professor insano de Simmons, muita. Para o aluno interpretado por Teller, é a diferença entre o sucesso absoluto e o fracasso retumbante.

Não é fácil se afeiçoar a personagens obsessivos, embora os compreendamos. Eu entendo Andrew (Miles Teller): ele é um sujeito que sempre teve um objetivo na vida e que não enxerga nenhuma outra solução para sua vida além de ser o melhor músico do mundo. Quantas pessoas não são assim? Talvez, até mesmo o leitor tenha um pouco dessa obsessão pela perfeição enraizada dentro de si. Por outro lado, quase no final da projeção consigo compreender - embora jamais concorde - os "métodos" de Fletcher (J.K. Simmons) para ensinar aos seus alunos. Ele pretende forçar, quebrar, humilhar, torcer e esmagar até encontrar uma gota de brilhantismo. Doentio, sem dúvida.

É por isso que é tão complicado se apaixonar por esse filme. Ancorado por dois sujeitos no mínimo problemáticos e que tem como principais características afastar as pessoas próximas de seu convívio, "Whiplash" é um exercício de desapego moral em virtude do encantamento cinematográfico. Se moralmente os personagens estão longe da correção, cinematograficamente, a trama de Damien Chazelle é precisa, econômica, direta e virulenta (beirando o exagero em uma sequência que envolve um acidente de carro, apenas para mostrar o comprometimento doentio de um dos personagens) e brutalmente musical. A sequência final do filme, com poucos diálogos mas com uma serie de trocas de olhares entre os protagonistas (que engolem o espectador) é espetacular. Chazelle cria um plot twist dentro de um plot twist nessa sequência, fazendo  espectador sofrer e se regojizar ao mesmo tempo.

Esse é daqueles que devem ser vistos e é ótimo voltar ao Fotograma escrevendo justamente sobre um dos grandes filmes que chegarão aos cinemas brasileiros em 2015.


★★★★★

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